O que há de melhor na natureza
Há uma canção napolitana, muito bonita, que diz em um dos seus versos." " Vulesse cummannà pe Spremmere 'e dulure Dinto a 'stu ciummo amaro, Ca nun canosce 'o mare". Ou seja : "quisera ter o poder de diminuir a dor,neste rio amargo, que não conhece o mar". A dor, sempre convivi com esse - como eu costumo chamar- monstro delicado. A dor que me assusta tanto.Desde a minha infância, no Engenho Cacimbas , em que muitas vezes, na escola,eu me desligava da aula ,da professora, dos coleguinhas, e ficava desenhando os montes, os canaviais, os animais pastando.Tinha também o banho de açude, subir nas árvores para apanhar frutos; mesmo assim , aquele lugar ,que no dizer de Joaquim Nabuco - referindo-se ao Engenho onde fora criado-, um reino encantado, não aliviava minha angústia.Fervilhava na minha cabeça infantil ,palavras, como: Vietnam, Saigon. Será que a presença humana é necessária neste planeta? Eu me indagava. Não encontrava resposta.As aulas de catecismo não estava mais fazendo efeito.
O tempo passando, eu lendo; li sobre a batalha de Stalingrado, uma das mais cruéis da história das guerras. E o relato surpreendentemente triste e belo de um oficial alemão, que dizia: " ... Quando a noite chega, uma daquelas noites causticantes, de sangue e de gemidos, os cães se lançam às águas do rio Volga e nadam desesperadamente para chegar à outra margem . Até os animais fogem deste inferno, que as pedras mais duras não conseguem suportar por muito tempo - só os homens ainda resistem". Apesar de tudo isso , pode se encontrar muitas coisas interessantes nessa paisagem desoladora: as sinfonias,as belas canções, os bons sentimentos, o amor, é claro; e principalmente o ser humano. O ser humano que pode muito bem ter sido criado para ser o que há de melhor na natureza.