ANGÚSTIA
Se eu tivesse a capacidade de Frida Kahlo, seria tão fácil falar da realidade desta manhã. Há momentos em que não sei dar vida às palavras, para que elas, vivas, carreguem meu impotente sentimento e levem a angústia nas asas possíveis do vento.
Estou como o toureiro, que luta e se defende eternamente com a capa vermelha e não se livra da cabeça incansável e insana do touro, entretanto, os olhos do animal também me dizem das dores que o motivam.
Chegam-me os sofrimentos alheios, cortam-me a carne e eu, cortada, sangro e nada posso fazer, que estanque essas dores derramando caudalosamente em volta de mim.
Tenho os braços tristemente curtos e mãos tão vazias. Quem dera eu pudesse colocar as coisas em seus devidos lugares e alinhavar as palavras nas ideias lançadas ao papel. Dessa forma, se eu pudesse, talvez expulsasse, em definitivo, o sofrimento que baila à minha volta.
Estou inerte, quando há um grito lá fora e uma turba angustiante sob telhados diversos. Quero estar lá, onde a dor é mais forte e, ao mesmo tempo, quero estar aqui, onde a tormenta abala a mente que exige perfeição de si mesma.
Tudo em mim hoje tem o desenho de uma forquilha e eu estou, incapaz, no ponto em que ela se bifurca, sem a necessária força para dar um passo, sequer.
Não me venham falar de flores, não me deem receitas, tampouco mapas. Hoje, principalmente hoje, quero ter o direito de ignorar doces palavras e corroer-me nessa atroz angústia, até que eu veja os que amo em paz.
Dalva Molina Mansano