Há esperança pós-Golpe?
Se Chico Buarque, poeta, músico, escritor e intelectual, exilado na ditadura militar de 1964 e de uma sensibilidade infinita, não tem nada a nos ensinar, ouviremos quem? Se Caetano Veloso, Gilberto Gil, Leonardo Boff, professores de todas as Universidades Federais brasileiras, diretores de teatro e cinema, artistas, historiadores, filósofos, sanitaristas... se esses não nos tocam, nos espelhamos em quem? Estes, todos, são a favor da Democracia e contra o Golpe político que se encontra em curso no país.
Hoje, dezoito de abril, a segunda feira nasceu cinzenta e o país acordou diferente, ressacado por um êxtase de violências perpetradas por uma Câmara de Deputados despreparada, mal intencionada e interessada no Golpe. Um espetáculo dominical televisionado ao vivo para toda a população brasileira. Um guia de maus costumes. Eis que ressurge, assim como na Ditadura Militar, um país recrudescido, uma democracia ferida e esfacelada.
Nesses últimos tempos, temos (eu e alguns bandos) proposto o debate, independente da posição partidária de cada um, sem ofensas pessoais ou pejorativas e sem utilizar as redes sociais (que por vezes acho uma ferramenta de covardes). Um debate olho no olho, que faz separar o joio do trigo, objetivando desmascarar e esclarecer as acusações infundadas e raivosas contra a Presidenta Dilma. Temos defendido o combate à corrupção na sua totalidade, mas com comprovações dos crimes de fato e direito. Não o combate a um partido específico, com pretextos estapafúrdios e midiáticos.
Há 12 anos que minha bandeira e minha militância são pelos mais vulneráveis, suscetíveis e pela saúde pública do país, e tenho plena consciência que avançamos como nunca antes na última década. Mesmo assim, tenho severas críticas ao Governo, mas isso não dá a mim, e nem a ninguém, o direito de cogitar sua saída. Pedaladas fiscais não é motivo ético, moral e legal para destituir uma presidenta eleita pela maioria do povo brasileiro. Se assim fosse, todos os governadores, prefeitos e ex-presidentes deveriam deixar o poder em suas respectivas instâncias. Não há, e nunca houve, comprovação de desvio de dinheiro ou qualquer outro crime pela presidenta. Por isso, é Golpe! Um golpe julgado por uma bancada política, na sua quase toda maioria condenada por corrupção e outros crimes, com interesses individuais com a saída de Dilma. Uma bancada homofóbica, racista, classista, fascista, sexista e misógina. Uma estirpe que não representa a maioria do povo brasileiro.
Estamos agora nas mãos de Michel Temer e Eduardo Cunha, do PMDB, PP, PSDB, e outros. Partidos sem projetos sustentáveis de governo, que foi derrotado nas urnas nas últimas quatro eleições presidenciais.
Há esperança pós-golpe? Depois de ontem, não consigo mais acreditar em Estado Democrático de Direito. Espero estar enganado.