O JASMINEIRO DE "DONA MANA"

(Diário de minhas andanças)
Já falei de ti algumas vezes .
Bendito sejas! Jasmineiro do jardim de dona Mana.Há que ser muito insensível para não percebe-lo.
Escorre seu cheiro em qualquer estação do ano.Tão delicado,tão nostálgico,evoca a profundeza de minhas (nossas) melhores lembranças.
Bendito sejas! guardião das calçadas da 15 de julho.Você que me arremessa (sem dó,nem piedade) àqueles começos de noite à caminho do São Vicente.
Pés chutando latinhas,olhar compenetrado como que tivera contando os paralelepípedos da 24 de maio.
Cadernos debaixo do braço,aquele odor de Rastro delimitando territórios,um vinil do RC nas barraquinhas da paróquia de Nossa Senhora da Luz
e ,se fora numa quinta feira,alguns pensamentos arquitetados de uma gazeada nas aulas para marcar ponto no cine do seu João Wasilewski.
Tudo perdoável! A causa era nobre,o coração pulsava sonhos,ilusões,juventude...
(E aquele teu cheiro incensando a minha Irati dos anos 60/70)
Vez e outra cruzo à tua frente e em teu silêncio de flor,você persegue-me com teu odor indecifrável como a  dizer:
"Menino (?) eu te conheço!"
Aí me vem à cabeça um trecho do livro "Era uma vez Irati",do meu grande amigo escritor Julio Bronislawski (filho desta terra),que assim refere-se em suas páginas:

"Brisa. Teu nome no cheiro do jasmim a invadir a rua no início do outono no caminho que leva ao Colégio São Vicente.O jasmim no vôo do pássaro a carregar o menino para a adolescência,enquanto o pé de butiá cresce no jardim da casa paterna.
Brisa.O tempo volteia, rodeia, seca, corre veloz mas não apodrece as lembranças.
Meus cheiros mudam de rua mas não de caminho, procuram o melhor ângulo para ver o brilho do céu avermelhado.Os pinheiros ainda persistem em se destacar diante do crepúsculo do início do outono,enquanto Irati se incendeia nas tardes claras.
É a festa das cores,luzes e núvens".

Joel  Gomes Teixeira