VAGABUNDO
Quando rapazote, ginasiano ainda, conversava com quatro amigos do bairro à noite, sob a luz de um poste, falando das nossas vidinhas, contando anedotas, coisas comuns dos jovens da época.
Naquele tempo não havia celular, nem “internet”, de forma que saíamos para as ruas a fim de curtir uma serenata, tomar uma cervejinha bem gelada num dos botecos conhecidos (a “Portuguesa”, com certeza, a nossa preferida) e depois regressar aos nossos lares.
Nessa ocasião, estávamos proseando eu, o João “Camisola”, o Chico “Arroz”, o Luiz “Cabeção” e o Tonico “Meio-Quilo”, quando veio surgindo um andarilho barbudo, cabeludo, arrastando um saco enorme com suas tralhas.
Aproximou-se e pediu um cigarro ao “Chico Arroz”, pois era o único do grupo chegado ao vício. Um cheiro forte, azedo e insuportável veio do andarilho em nossa direção, causando-nos ligeiro mal estar.
Alguém lhe acendeu o cigarro, ele deu uma enorme tragada, cuspiu de banda, deu outra tragada, depois mais uma e pediu outro cigarro ao “Chico Arroz”. Contrafeito, nosso colega resolveu admoestá-lo:-
“- Olha aí, cara, você é muito folgado, sabe? Por que não vai trabalhar ao invés de ficar por aí enchendo o saco dos outros, heim?”
O andarilho fixou bem seus olhos avermelhados no “Chico Arroz”, pigarreou e retrucou, na bucha:-
“- Porque eu não posso, uai! Eu não posso, entendeu?”
“- Mas por quê você não pode, ora essa?” – insistiu o “Chico Arroz”.
“- Porque eu sou um vagabundo, entendeu agora? Va-ga-bun-do!...” – e saiu arrastando o enorme saco, seu mau cheiro e as suas tralhas.
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B.Hte., 24/04/16