Rosa Maria

Todos os dias os dois amigos se encontravam no boteco no final da tarde, vinham fechar o circuito, tomavam umas lapadinhas finais, lavavam com uma cervejinha e tomavam a tradicional sopa de feijão para dar "sustança". Naquele dia um deles, o mais velho, chegou atrasado, o outro já estava tomando a sopinha, mas estava meio bêbado e chorando paca. Chorava tanto que as lágrimas caiam no prato fundo se misturando com a sopa. Vendo aquilo o mais velho se surpreendeu, nunca vira o amigo naquele estado, e então perguntou o motivo. O sujeito engoliu com dificuldade uma colherada da sopa com lágrimas e disse com a voz embargada:

- Cara, que dia péssimo e triste para mim! Sabe por quê? É que encontrei Rosa Maria na beira da praia a soluçar.Fiquei apreensivo, pensei logo que mãe dela que é doente tinha morrido. Então cheguei junto dela, alisei seu cabelo cacheado, e perguntei o que acontecera. Rosa Maria limpou os olhos com a manga do casaco e respondeu:

- O nosso amor morreu!

Foi como se um raio tivesse caído em cima de minha cabeça, fiquei zonzo, desnorteado, nocauteado, como se tivesse levado um murro de Mike Tysson. Repeti várias vezes para mim mesmo a frase dela: "O nosso amor morreu!".

O cara caiu de novo no choro,convulsivo, desesperado. Algo de fazer pena. O amigo ficou preocupado, sabia que ele era arriado os quatro pneus pela cabrocha Ropsa Maria. Era paixão antiga,coisa de pele, amor de verdade, pelo menos da parte dele. Quando o choro amainou um pouco, o mais velho perguntou o motivo da morte do amor. Ele deu uma respirada, tomou um pouco da cerveja e respondeu:

- Não sei ainda, meu amigo, explicar a razão de Ropsa Maria despedaçar o meu coração. Olhe,camarada, eu fazia-lhe, juro, todas as vontades. Nem quero pensar, fico até com medo, de fazer a mim róprio a pergunta que não poede calar: será que ela arrumou outra amizade?

E voltou a chorar feito menino novo,chorava por Rosa Maria, peloseu amolr que morrera, pela má sorte. Com jeito o amigo mais velho conseguiu acalmá-lo e levá-lo de táxi para casa, mas na volta ficou convencido que Rosa Maria havia arrumado mesmo outra amizade, e que iria ter que aturar essa choradeira do amigo por muito tempo. Mas amigo é pra essascoisas. Inté.

P.S. Adoro essa marchinha de carnaval de Anibal Silva e Edson Silva. No documentário "Saravah", do francês Pierre Barrouh, Maria Betânia então com 20 aninoscanta essa música linda, simples mas arfretada. Está no You Tube.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 23/04/2016
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