Sobre todas as coisas que você me fez viver, mas que nunca tive coragem de dizer
Eu me lembro bem daquele 18 de dezembro de 2014.
Ainda no auge dos sentimentos mais ofegantes que o início de um relacionamento causa na gente.
Era tudo novo. E eu conseguia sentir aquelas coisas que o mais intenso amor provocava.
Eu não fazia questão de me dedicar totalmente a você.
Juntei minhas coisas. Arrumei a mochila. Viajei.
Passei o dia inteiro na ansiedade, esperando a noite chegar para, enfim, poder ficar a sós com você.
Arrumei o quarto. Preparei o jantar.
Ao final do seu dia de trabalho, fui ao teu encontro. Te buscar para mim.
Você estava irretocável. Parecia feliz ao me ver.
Era uma noite quente e nós também estávamos quentes.
Os meus olhos gritavam o quanto te amava.
E o teu sorriso me respondia, calmamente, que era recíproco.
Voltamos para casa na tranquilidade.
Dividimos um chocolate durante o caminho.
Como eu adorava te satisfazer.
Quando chegamos, você foi tomar banho e eu decidi esquentar a comida.
Após um dia cansativo, a maior recompensa é poder desabar na cama sem preocupação do que virá amanhã.
E em nosso caso, o prêmio era ainda maior. Tínhamos a nós, ali, pertinho, trocando calor, carícias, amor.
Amor até chegar a exaustão.
Amor até não ter a certeza de quando pegamos no sono, dormindo um sobre o corpo do outro.
Amor até criar no coração a certeza de que fomos feitos para durar.
E assim encerramos esse dia que parecia mais um conto de fadas.
Perfeito. Sereno. Tranquilo. Apaixonado...
Já era 2015.
Dois meses se passaram desde que entrelaçamos nossas vidas.
Comecei a duvidar de algumas atitudes e conversas fiadas.
Foi a partir daí que se iniciou meu ciclo paranoico.
Eu comecei a investigar você.
E eu não sossegava enquanto não achasse todas as respostas.
Descobri coisas que preferia que fossem mentiras.
Encontrei respostas que, se soubesse da gravidade, juro que jamais pensaria em buscá-las.
Você me enganou.
Mas eu ainda não havia totalizado minha satisfação.
Agora que já estava na pior, eu precisava ir a fundo.
Nada mais parecia me machucar.
Eu queria ter acesso a tudo sobre seu passado e, principalmente, sobre o tempo em que já estava comigo.
Eu cheguei às respostas.
Quanta dor.
Naquela noite de 18 de dezembro de 2014, você me traiu.
Justamente naquele 18 de dezembro de 2014 que tanto esforço fiz para estar ao teu lado, você me traiu.
Com uma pessoa que nunca viu antes.
Com alguém que não conhecia tua história.
Com uma pessoa que não respeitou tua intimidade.
Com alguém que sequer sabia teu nome.
Com uma pessoa que se resumiu a um pequeno espaço de tempo.
Um pequeno espaço de tempo que foi suficiente para manchar para sempre a mim, a você, e a nós.
Você não levou em consideração o que eu sentia nem o que você dizia sentir.
A minha vontade era de morrer.
Não morrer por você ou por essa pessoa que você se deitou e eu não conheço.
Mas morrer por mim.
Por eu ter me deixado levar e ter sido tão idiota ao ponto de cair neste abismo.
E eu realmente morri.
Naquele dia senti que morrer nem sempre é fechar os olhos e ir parar debaixo da terra.
Morrer é ter seu interior congelado por sentir tanta dor.
É se sentir perdido em meio a um mar de desilusão que quanto mais você nada, mais longe da terra firme você está.
Aquele 18 de dezembro de 2014 me matou.
E aquele 18 de dezembro de 2014 me fez chegar à conclusão que existem dores que jamais vão sumir ou parar de machucar. Na verdade elas vão ficando ali, se apequenando e a gente vai, aos poucos, aprendendo a conviver com elas.
Você me fez perder todo o encanto no melhor das pessoas.
De acreditar que, pelo menos uma parte da humanidade, é tão honesta, sincera, corajosa e verdadeira quanto eu fui a respeito de um sentimento, de uma relação.
E por falar em respeito, você não me respeitou.
Não respeitou o meu amor.
Não respeitou a minha entrega nem minha dedicação.
Não esperou para me trair em outro dia, qualquer que fosse, diferente daquele 18 de dezembro de 2014.
Porque naquele mesmo 18 de dezembro de 2014 você se deitou comigo.
A gente se amou quando você usou e se deixou usar pelo sexo barato.
E eu me senti podre.
Me torturei por dentro.
Era como se eu fosse a pior pessoa do mundo.
Cada lembrança era um corte.
Um corte profundo.
Na alma e no coração.
Quase dois anos se passaram e ainda não me curei.
E tão cedo vou me curar.
Esse é o tipo de ferida que irei carregar até o fim dos meus dias.
Porque me dói relembrar.
Mas não consigo esquecer.
Na memória ainda estão frescas as lembranças do 18 de dezembro de 2014.
Eu nunca mais serei a mesma pessoa.
Acabou a inocência. O sentimento puro. O amor sereno.
Você destruiu um pedaço precioso de mim.
Uma parte que luto dia após dia para reconstruir.
Eu jamais abri o meu coração para dizer a você todas essas coisas.
E não tenho certeza se um dia você irá ler estas palavras.
Mas nessa altura do campeonato isso pouco importa.
Porque eu as escrevi para mim.
No desespero de exorcizar meus fantasmas.
Na tentativa de vomitar minhas feridas.
Às vezes eu me pergunto a razão de ainda ter insistido e permanecido.
Pisei no meu orgulho.
Desmaterializei meu amor próprio.
Eu, sinceramente, não me entendo.
Talvez seja a vulnerabilidade que o amor causa.
Ou talvez seja aquela máxima de que, a mesma pessoa que dilacera, também seja os remédios ideias para curar.
E aqui estou, esperando a cura desta mágoa, destas dores, deste sofrimento.
As lágrimas, agora em menor proporção, já não correm rosto abaixo.
As feridas, mesmo fechadas, vez ou outra alfinetam suavemente a alma.
Eu ainda estou aqui. Embora que algumas partes importantes tenham ficado pelo caminho.
Mas ainda estou aqui.
E hei de permanecer.
Apesar de ainda não ter aprendido a lidar com aquele 18 de dezembro de 2014.