Convivendo com o câncer
Como é viver com o câncer da minha mãe? É saber que cada dia é uma batalha diária, onde todos os minutos contam e nossas perspectivas mudam. Aliás, nós temos que mudar ou não seremos capazes de nos adaptar às exigências trazidas pela doença e tratamento: debilidade e limitações. Curiosamente, vejo que o sofrimento pode ser necessário à vida pois, sem ele, não teríamos que testar nossa força nem nossa capacidade de nos adaptar e que não devemos nos dar nunca ao luxo de ser egoístas, mas temos que aprender a ser solidários, não nos encostando nas pessoas ou sendo um peso para elas.
Outra coisa que aprendi foi o valor do que dizemos. Esta semana, ela me falou que entendia por que tantos maridos deixavam as mulheres com câncer e que se sentia um peso. Eu falei para ela que ela nunca deveria se sentir um peso, já que sempre cuidara de mim quando eu precisara e que, agora que ela estava precisando, eu iria ajudá-la.
Nós jamais estamos preparados para nada, mesmo que pensemos que estamos. Eu sempre li sobre pessoas com câncer e como isso afeta suas vida. Mas ler sobre os fatos não nos prepara realmente para vivê-los. Só pode falar na dor, medo e insegurança trazidos pelo câncer quem o experimenta. Eu vejo minha mãe debilitada e, além do medo pelo sofrimento que ela experimentará no futuro, sinto impotência e dor diante do sofrimento que ela experimenta no presente, o que me torna tão consciente de que sou humana, limitada e sujeita às inseguranças do mundo.