MEU PRIMEIRO AMOR - POLÍTICO -

O ano era 1982. Eu com 18 anos e recém- aprovada para a Universidade Federal de Uberlândia, achava que sabia tudo do mundo e, mais, que poderia mudá-lo. E como a maioria da minha idade, era apaixonada pelo PMDB, que representava a transformação, o rompimento com a mesmice. O PMDB de Tancredo Neves e Ulysses Guimarães.

Pois bem, estava marcado um grande comício do partido em minha cidade com a presença de Tancredo, candidato a governador do Estado de Minas Gerais, Ulysses, candidato a deputado, Itamar Franco, candidato a Senador da República e Zaire Resende, aquele que tinha acabado de sair do anonimato e se tornado quase uma unanimidade, candidato a prefeito. Eu, louca pra ir, convidei uma amiga, Lili, que não era lá afeita a política, mas, como boa amiga que era, resolveu me acompanhar. Tivemos que ir a pé, pois éramos duas pobretonas que não tinham dinheiro pra táxi e nem carro tínhamos em casa e, além disso, não havia linha de ônibus que passasse perto do local do comício.

Ficamos por lá por umas duas horas: eu em estado de êxtase ouvindo aqueles que eram meus ídolos e Lili, ali do lado, entediada. Eis que caiu um temporal e a energia caiu junto. Logo deram o evento por encerrado e nós, cobertas de lama dos pés à cabeça porque estávamos em terra batida, retomamos o caminho de volta: avenidas, ruas, ruelas e becos.

E aí se deu uma cena que pode parecer invencionice ou cena de filme, mas aconteceu de verdade. Ao passarmos por uma esquina vimos um sujeito muito estranho cortando uma árvore com um facão e, amedrontadas, começamos a correr e ele, com o facão em riste, começou a correr atrás de nós até que, ao chegarmos num cruzamento movimentado, olhei pra trás e vi o sujeito se preparando pra desfechar uma facada nas costas de minha amiga e só não o fez porque acho que um anjo a empurrou. Ela caiu no momento exato que ele desceu o braço pra atingi-la. Gritei como uma louca, o que chamou a atenção de muita gente e afugentando o rapaz. Por coincidência morava ali na esquina a família de um conhecido da Lili, que nos socorreu e nos levou pra casa num fusquinha - ainda bem que tinha pelo menos um fusca.

Mas passado a eleição, achava que tudo tinha valido porque todos os meus candidatos haviam sido eleitos. O tempo se passou: Partiu Tancredo. Partiu Ulysses. Perdi o encanto pelo PMDB e depois de uma breve paquera com o PSDB, de Mário Covas, acabei envolvida pelo discurso do Partido dos Trabalhadores. Outra vez acreditei na renovação, na ideologia de um partido, outra vez sonhei...

E agora? Quase trinta e cinco anos depois de meu primeiro amor - político-, sinto-me com coração vazio, frustrado e mais decepcionado que nunca. Não vejo mais política com a paixão de trinta e cinco anos atrás. Falta crença pra me fazer erguer a voz em defesa de um partido e desafiar o mundo por ele. Faltam políticos capazes de me fazer enfrentar riscos, loucos e seus facões.

Waíra Duarte
Enviado por Waíra Duarte em 22/04/2016
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