A caçada

Era um dia normal do inverno frio de Curitiba, as 06:30 ela levantava da cama e fazia cafe para ele, que mais uma noite não havia dormido.

Ela com sua voz rouca e fina, usando um tom de tristeza pergunta:

-Ainda não dormiu mohzão?

Ele:

-Passei a noite olhando para a Alice.

Ela sabia que havia algo de errado, ele chegou mais cedo do trabalho na noite anterior, o que era muito raro e ainda não tinha dito o motivo.

Ela com sua voz materna perguntou o que tinha acontecido, e ele recém formado oficial do C.O.E (comando de operações especiais da PMPR)

começou a contar com sua voz rouca e cansada o motivo da sua chegada precoce.

Ele:

-ontem fomos enviados para a favela da portelinha para buscar um traficante, estávamos fazendo uma abordagem quando vi duas crianças carregando uma sacola de latinhas para vender num deposito de lixo, elas saíram do deposito e na mercearia em frente compraram um punhado de balas....

Assim que terminamos a abordagem eu pedi aos meus companheiros que ficasse atentos fui na mercearia, comprei várias porcarias para as guriazinhas.

E ele deita no colo dela, com voz de choro! Ela que o conhecia desde os 17 anos de idade, pega em sua mão e com a outra mão começa a fazer um cafuné. E ele toma folego e continua a falar:

-Comprei sonhos, chocolate e refri pra elas, e entreguei a menorzinha que estava com o rosto sujo mas tinha olhos verdes e felizes de toda criança que ganha doce, perguntei seu nome, e a criança falou timidamente:

-Alice.

Algo me arrepiou quando ela falou o nome e eu senti que aquele dia não seria normal.

Voltei para a viatura, e voltamos a patrulhar a região....

as duas horas da tarde encontramos um menor de idade, já viciado no crack e o capitão começou a descer a lenha no menor fazendo com que ele entregasse onde estava o "patrão" daquela favela, nossas ordens era de buscar o mala e faríamos a caçada ate encontrar!

Saímos do local para organizar a invasão da biqueira onde mala estava e as 16 horas voltamos, a minha equipe e a do capitão com força total, mas caímos numa cilada e nos vimos encurralados levando tiro numa da quelas vielas estreitas e sem saida, não me estressei na hora.... já estávamos acostumados com as recepções na base da bala, assim como no xadrez derrubamos um por um dos 6 marginais que tentaram nos matar.

Ela olha para ele, acostumada em amparar seu marido desde o dia em que ele havia ficado sozinho no mundo, mas nunca tinha visto aquela tristeza em seus olhos.

Ele continua a contar os fatos:

-Nos entramos na quele barraco de madeira, esperando encontrar 3 homens mortos!!!

Ai ele grita:

-Meu Deus!!!! O que eu fiz!!!!

Ela:

-Continue mohzão!!!

Ele:

Quando entramos no barraco, encontramos os marginais mortos na entrada e atras tinha um comodo onde os noias usavam drogas, e la tinham 4 corpos perfurados, dois noias e uma mãe que morreu abraçada com a filha. Era a Alice e sua mãe, ambas mortas pelas balas de nossas armas.

Ele passou a chorar como uma criança neste momento no colo de sua mulher, a pequena Alice tinha ido com sua mãe, catadora de recicláveis, ex viciada e evangélica buscar seu pai que havia sumido a três dias, estavam no lugar errado e na hora errada, a PMPR emitiu uma nota aos jornais dizendo que a pequena Alice tinha sido morta com o pai e a mãe por divida de drogas minutos antes da tropa de elite invadir o local e nenhum morador arriscaria a vida para desmentir essa historia.

Dois dias depois o tenente estava na rua, continuando suas caçadas!

Leandro C Sbrissia
Enviado por Leandro C Sbrissia em 22/04/2016
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