Sobre o absurdo - Uma reflexão sobre a vida
A vida é uma senhora negra, pobre, corcunda e cansada de tanto caminhar carregando um saco sujo pesado com poucos objetos.
No saco, o que pouco podemos.
A senhora nem se importa mais com os objetos. Já se foi o tempo.
A vida é o que sobra depois do expediente. É a resistência narcísica diante da antiética, da antipolítica e da antiexistência.
A vida é um desejo de alimento da ilusão. Nesta condição, estamos perdidos e isolados em nossas ilhas construídas a base de cartões de crédito, esperando que o chão firme da ilha não se desfaça nos deixando afogar nesta fuga incessante da realidade.
A vida é uma violação violenta contra si mesma.
A senhora caminha calada, sem nada aparentemente a dizer. O que ela falar, fazer- ia diferença radical nas estruturas desiguais de seu suicídio solitário?
Ser pobre é estar miseravelmente condenado a existência sem chance de defesa.
Numa cultura de informação, pouco esclarecimento há. Então a senhora vida passa a ser a inexpressão do ser. Não mais somos, somos números sendo somados para sustentar os donos do poder.
Somos ignorância relutantes em se manter imanentes numa avalanche assustadoramente obscura.
A existência vaga aqui e ali como uma sombra melancólica que assusta e é assustada pelos animais domesticados pela cultura.
Anjos duvidam dos reinos dos céus e deus mais se parece com uma prostituta que vende sua imagem para abraçar as carências dos perdidos sem saber-o-que-fazer.
Tudo cheira ao ralo do absurdo.
Tudo se esgota e cai num esgoto de merdas fecundas.