Vendedor de Abará
Certa feita eu estava no hospital Sarah, esperando um ônibus para me locomover para o trabalho, sentado num banco, ladeado por três pessoas a esquerda e por duas pessoas a direita, quando de repente um vendedor de abará aproximou-se para ofertar o seu abará para as pessoas do ponto de ônibus. Fiquei inicialmente espantado com as questões higiênicas de vender um abará num isopor comum, o que me faria rejeitar qualquer tipo de compra. Ademais, eu estaria sem nenhum vintém. Mas observei ele efetuando uma venda para uma das senhoras que estavam ao meu lado esquerdo do banco. Já de saída, após a sua venda, ele percebeu pelo esgar de dúvida da outra senhora, que estava mais próxima ainda de mim, ao lado esquerdo, que ela não conhecia o que era o abará. Passou então a fazer uma espécie de propaganda de seu produto para estimulá-la a comprar e, obviamente, desejar o seu abará. Explicado o produto e feita a propaganda a senhora se interessou e comprou o dito abará. Mas o mais importante desta história não é o simples relato das compras e vendas de um vendedor de abará. O que me chamou mais atenção foi o fato dele, ao mesmo tempo em que retirava o troco de dentro de sua pochete, receber de uma morena, que chegará ali deus sabe como, uma dessas mensagens bíblicas (de uma igreja evangélica, provavelmente), mensagem esta que também recebi. Não fiquei intrigado na verdade com o fato do vendedor de abará ler e reler o pequeno folheto nem da atenção demasiada a esse tipo de mensagem. Mas, intriguei-me, sim, com o fato do vendedor retirar na mesma pochete (onde colocará o troco da venda do abará) um emaranhado de folhetos bíblicos enroscados num elástico simples de escritório, que provavelmente receberá de outras religiosas, tal como a morena. Passei a refletir sobre isso e fiquei meditando. Fiquei meditando e emocionado como essas mensagens efetivamente guiam essas pessoas. Como dão a devida atenção ao texto bíblico. E com que carinho guardavam todas essas mensagens. Marx dizia ser o deus cristão um deus burguês. E no meio de tanta simplicidade e pobreza me pareceu que ele estava com razão.