SOU PALHAÇO
O palhaço tem que fazer o público gargalhar.
Não importa se for uma só pessoa, ou uma multidão.
Não importa se estiver triste, ou melancólico.
Não importa se a sua vontade for só chorar.
O palhaço não tem vontade própria, nem sentimentos de fato.
Quando entra no picadeiro, deixa todas suas mazelas do lado de fora,
esquece aquela que repetiu que tanto o amava, e fugiu com o primeiro que apareceu,
esquece aquela dor pujante que nunca descansa,
esquece aquela dúvida que não cessa de martelar sua cabeça.
O palhaço não tem fome, sede, nem sono.
Seu corpo se alimenta do calor da alma, e isso basta,
seu sangue corre com mais pressa que outros sangues,
seu coração vive disparado, numa tresloucada corrida consigo mesmo.
O palhaço não morre nunca.
Sua vida não tem partida ou ponto final,
seu roteiro ganha sempre uma nova linha a cada instante,
no dia seguinte sempre terá nova estreia a cumprir.
Sou palhaço e disso muito me orgulho.
Pintar minha cara é rotina desde sempre,
quando subo no picadeiro. esqueço meus desenganos, meus infortúnios,
meus tropeções sem trégua,
quando acaba meu show não tiro meus sapatões, minhas calças largas,
minha jaqueta espalhafatosa,
nem minha bola vermelha que coloco no nariz.
Muito pelo contrário.
Quando toda a plateia for embora é que meu espetáculo vai acontecer.
Porque só ficarei eu comigo mesmo em cena.
Então poderei gargalhar até sumir todo fôlego,
poderei fazer todas estrepolias que der na telha,
vou poder errar meu roteiro a toda hora,
poderei me aplaudir até minhas mãos ficarem em carne-viva
e nada mais.
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