AS ARTISTAS

Eu era a cabeleireira da família. Cortava os cabelos do José, dos nossos filhos, dos sobrinhos e da nossa secretária doméstica. Meu sonho era ter um salão de beleza.

Maria Júlia, nossa primogênita, deixou as madeixas crescerem para fazer um corte diferente.

-Mamãe, quero que a senhora corte igual ao daquela mocinha loira da novela das oito horas.

-Aquela magrinha de olhos castanhos, Ula?

-É, mamãe. Igualzinho. Olha lá, hein!

Peguei a tesoura e comecei a cortar abaixo da orelha.

-Mãe, não é assim! A senhora pelou a minha cabeça! Falei que era igual à atriz! Os cabelos dela são compridos até o ombro e viradinhos para dentro!

-Ah, filha, desculpa. Pensei que era aquela de cabelo Chanel.

-Não, mãe. Essa é da novela das sete horas e a que te falei é da novela das oito.

Coitadinha da Ula. Ficou com raiva, pegou uma linda pregadeira que a mana Lena, sua madrinha, lhe dera e deu para sua prima.

Foi a última vez que cortei cabelo.