Sobre a Vida
Já tive alguns medos bobos. Sim, já tive alguns medos tolos e alguns outros estúpidos demais pra poder dizer aqui. Já tive medo de não ser recíproco e já tive medo de o ser. Já tive medo de estar errada ou de estar sendo a errada. Também tive medo de acertar, porque nem sempre é o certo que se espera de você; de mim; de nós, enfim. E como tudo parte de um ponto de vista, eis que o ponto cedo da visão também existe, então tudo não depende ou limita-se a mais que uma simplificada noção da teoria da relatividade. E eu já tive medo de tudo o que é relativo também...
Já tive medo de não ser aceita e já tive medo de ser aceita até demais. Ainda que eu não saiba bem como é isso, mas algo tipo aquele amor cego que beira a idolatria. Ainda que ser especial, talvez sempre tenha sido a pretensão mais secreta e desejosa de se fazer cumprir. Mas eis que há a cegueira. Sempre ela, me fazendo perceber os limites do que não quero viver. Ainda que por vezes exagere ou dramatize. O fatalismos incumbido em todos os ismos me assombra. Não quero ter de ser obrigada a concordar com o que eu disse antes, porque antes eu talvez enxergasse diferente de agora ou soubesse menos. Não que agora eu saiba de fato mais. Mas o mundo gira e a gente recicla opiniões como recicla a si mesmos. Como também joga algumas coisas no lixo pra sempre. Coisas que não voltamos para reciclar e se decompõem em nada, se é que isso existe.
Talvez eu filosofe loucuras demais ou simplesmente jogue pensamentos no ar, como quem atira pedras num rio meio de lado para ver se picam ou se fazem ondas circulares em volta de si ou se caem pesadas e profundas furando a água - porque não são delicadas o suficiente para o acariciarem com leveza e carinho. Talvez eu me torne redundante ou simplesmente fuja do assunto mais do que deveria, entrando por todas as portas do labirinto até encontrar a que de fato me leve a saída de mim mesma ou do que nem sei que pretendo dizer. Sei que eu gosto de brincar com as palavras e delas eu nunca tive medo. As respeito, talvez por isso entenda que preciso deixar elas chegarem até mim como queiram, não as quero profanar.
Mas voltando aos medos, eu já tive medo de dizer todas essas coisas. Já tive medo do silêncio. Já tive medo o abismo. Já tive medo de crescer, até que entendi que crescimento é coragem. E coragem é necessária. Não quero dizer que eu estava errada há alguns anos atrás, só sentia um pouco mais de medo de me mostrar como realmente eu sou. Quero dizer, no profundo das palavras, que de fato me mostram tão melhor que eu possa explicar ou demonstrar através da minha pele, do meu rosto, dos meus atos ou das minhas roupas.
Nunca quis lugar que não fosse meu e em dias de turbulência, ainda é para dentro dos meus mais profundos oceanos que navego, submerjo e vago entre ondas de sonho e sensação. Gosto de estar de mim. Me sinto segura bem aqui dentro e me sinto segura para me por o mais pra fora de mim que puder. Pois bem, eu cresci e hoje me sinto mulher. Acho que era isso que faltava para aquela menina que deixava o medo lhe paralisar. Hoje o medo me empurra para frente, não me mantém presa ao mesmo lugar. E é disso que eu gostaria de falar...