Getúlio: seu sorriso
                e uma marchinha




          1. Disse em outra crônica, que na casa dos meus pais, todos éramos Getúlio. Meu pai, um queremista convicto, emocionava-se quando o velho ditador, abrindo seus longos e bem elaborados improvisos do Dia Primeiro de Maio, voz mansa e convincente, assim saudava o operariado brasileiro: "Trabalhadores do Brasill!"
          2. Na principal parede da minha casa, o pai colocava três quadros: um quadro com o retrato dele com minha mãe; um quadro da Última Ceia do Leonardo Da Vinci; e um quadro com uma foto do Gegê, com seu inconfundível sorriso e a faixa presidencial sobre o impecável jaquetão.
          3. São essas relembranças, que permanecem guardadas lá no fundo do baú, que me levam a escrever pequenas crônicas homenageando Getúlio, todos os anos, no dia do seu aniversário, 19 de abril que, vale lembrar, coincide com o dia dos nossos queridos índios, tão esquecidos.
          4. Getúlio Dornelles Vargas - recordando - nasceu na cidade de São Borja, no Rio Grande do Sul, no dia 19 de abril de 1882. Foi casado com Darcy Vargas (1895-1968). Com ela teve cinco filhos: Alzira, Lutero, Manuel, Jandira e Getulinho.
          5. Baixinho, barrigudinho, sem maiores atrativos físicos, nem por isso Getúlio deixou de ter uma amante. Virgínia Lane (1920-2014), a famosa "Vedete do Brasil", morreu jurando que, de fato, fora o grande amor do Gegê. "Ele costumava presentear-me com orquídeas brancas", dizia a cantora de Sassaricando, sucesso no carnaval de 1951.
          6. Este ano, me propus a homenagear Getúlio a) lembrando o seu sorriso, para alguns misterioso; b) ele em uma marchinha carnavalesca, da época do seu reinado, a era de ouro do rádio: a Rádio Nacional, a Rádio Tupy e a Rádio Mayrink Veiga  as emissoras mais ouvidas.
          7. "Bota o retrato do velho outra vez/ Bota no mesmo lugar./O SORRISO do velhinho/ Faz a gente trabalhar." - Sempre sorridente, pode-se dizer que Getúlio sepultou a sisudez dos políticos e governantes da Velha República.           Trouxe o sorriso para as praças públicas. Depois de Vargas, dizem os pesquisadores, os políticos brasileiros passaram a sorrir para o povão. E o povo, sorrindo, passou a aplaudir os seus líderes.
          8. Getúlio adorava o rádio. Em 1940, incorporou a Rádio Nacional do Rio de Janeiro ao patrimônio da União.
          9. A Nacional, nesse tempo, era praticamente a dona dos melhores cantores do Brasil - Francisco Alves, Emilinha Borba e Marlene, Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Carlos Galhardo, Dalva de Oliveira, Carmem Miranda,  Dircinha e Linda Batista, Angela Maria, Silvio Caldas, entre outros.
          10. Esses cantores interpretavam canções de inspirados compositores como Custódio Mesquita, Lamartine Babo, Noel, Haroldo Barbosa, Herivelto Martins, Benedito Lacerda, Roberto Roberti e Arlindo Marques Jr., Braguinha e Ary Barroso, compositor de "Aquarela do Brasil", desde 1913, considerada o "segundo hino nacional".
          11. Muitos desses compositores cantaram Getúlio em marchinhas inesquecíveis. A dupla Roberto Roberti e Arlindo Marques Jr, por exemplo, homenageou o velho caudilho com a marchinha "Se eu fosse o Getúlio".
          12. A marchinha: "O Brasil tem muito doutor/ Muito funcionário,/ Muita professora./ Se eu fosse o Getúlio, mandava/ Metade dessa gente pra lavoura. (Repete) - Mandava muita loura/ Plantar cenoura/ E muito bonitão/ Plantar feijão./ E essa turma da MAMATA/ Eu mandava plantar batata."
          13. Essa marchinha, que na voz de Nelson Gonçalves (1919-1998) fez sucesso no carnaval de 1954, poderia perfeitamente ser cantada nos dias que correm...
          Os brasileiros sabem perfeitamente o porquê desta minha sugestão. Vargas presidiu o Brasil de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954. Na manhã do dia 24 de agosto de 1954, no Palácio das Águias, com o seu Colt 42, ele se suicidou com um tiro no coração.

 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 18/04/2016
Reeditado em 17/11/2019
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