REFLEXÕES.
O meu castanheiro adoeceu!
Esse amigo de longa data, que jamais deixou de participar com seus frutos da nossa mesa de Natal, amargamente ficou ausente este ano.
Talvez se devesse isso a uma dramática poda que tivemos que fazer, para salvá-lo da invasão de um parasita vegetal que o povo chama de “erva de passarinho”, praga disseminada por um inocente pássaro que come sua semente e a deposita, através dos seus dejetos, nos galhos das árvores.
Abominei, toda a minha vida, essa erva, que a mim encontrava notável semelhança com a maioria da classe política do nosso país, cujo verbo mais conjugado é “sugar”.
Esse ódio natural, cego, me levou a pesquisar a tal erva e, mais uma vez, aprendi outra grande lição; o que eu achava cheio de defeitos, odioso, malévolo e indesejável, tem o seu lado bom, como, aliás, tudo o que Deus pôs no mundo.
A Internet me ensinou que a erva de passarinho, cujo nome científico é “Struthantus vulgaris” é um excelente antimicrobiano, especialmente contra afecções das vias respiratórias. Que ironia, não?
O certo é que livrei o amigo castanheiro da praga que o estava afogando, drenando-lhe a seiva e condenando-o a uma morte inglória, fato que eu jamais admitiria.
A poda foi violenta, eliminamos galhos e galhos, reduzindo sua frondosa copa a, talvez, metade do que era, mas fizemos isso com a certeza do cirurgião que amputa um membro gangrenado.
O velho castanheiro sentiu, é claro, mas deu mostras, de imediato, que estava respirando melhor. O verde de suas folhas adquiriu novo brilho, começou a rebrotar, a reviver e esse sinal de recuperação trouxe-me um alívio tão grande que tive vontade de abraçá-lo, mesmo sabendo que meus braços não poderiam abarcar toda a circunferência do seu tronco.
Tenho dois castanheiros; o Don Juan e o Belo Antonio. O primeiro é o referido nesta crônica – não brinca em serviço! O outro é só papo, não é de nada, suas castanhas são esmirradas, irregulares e não há como fazê-lo seguir o exemplo do companheiro – ele é devagar mesmo e acho que vai morrer assim.
Pois bem, doeu em mim a poda feita, mas o meu Don Juan, ciente da preocupação que me atormentava, sendo amigo de longa data, achou por bem mandar-me um recado escrito na sua língua de árvore produtora, que poderíamos traduzir assim; “Amigo, para que você saiba o bem que me fez, mesmo absurdamente fora da época, ofereço-lhe a amostra do que virá ao final deste ano”. E me ofertou a flor que ilustra esta crônica!
Esse é o meu Don Juan!
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Imagem – do autor
O meu castanheiro adoeceu!
Esse amigo de longa data, que jamais deixou de participar com seus frutos da nossa mesa de Natal, amargamente ficou ausente este ano.
Talvez se devesse isso a uma dramática poda que tivemos que fazer, para salvá-lo da invasão de um parasita vegetal que o povo chama de “erva de passarinho”, praga disseminada por um inocente pássaro que come sua semente e a deposita, através dos seus dejetos, nos galhos das árvores.
Abominei, toda a minha vida, essa erva, que a mim encontrava notável semelhança com a maioria da classe política do nosso país, cujo verbo mais conjugado é “sugar”.
Esse ódio natural, cego, me levou a pesquisar a tal erva e, mais uma vez, aprendi outra grande lição; o que eu achava cheio de defeitos, odioso, malévolo e indesejável, tem o seu lado bom, como, aliás, tudo o que Deus pôs no mundo.
A Internet me ensinou que a erva de passarinho, cujo nome científico é “Struthantus vulgaris” é um excelente antimicrobiano, especialmente contra afecções das vias respiratórias. Que ironia, não?
O certo é que livrei o amigo castanheiro da praga que o estava afogando, drenando-lhe a seiva e condenando-o a uma morte inglória, fato que eu jamais admitiria.
A poda foi violenta, eliminamos galhos e galhos, reduzindo sua frondosa copa a, talvez, metade do que era, mas fizemos isso com a certeza do cirurgião que amputa um membro gangrenado.
O velho castanheiro sentiu, é claro, mas deu mostras, de imediato, que estava respirando melhor. O verde de suas folhas adquiriu novo brilho, começou a rebrotar, a reviver e esse sinal de recuperação trouxe-me um alívio tão grande que tive vontade de abraçá-lo, mesmo sabendo que meus braços não poderiam abarcar toda a circunferência do seu tronco.
Tenho dois castanheiros; o Don Juan e o Belo Antonio. O primeiro é o referido nesta crônica – não brinca em serviço! O outro é só papo, não é de nada, suas castanhas são esmirradas, irregulares e não há como fazê-lo seguir o exemplo do companheiro – ele é devagar mesmo e acho que vai morrer assim.
Pois bem, doeu em mim a poda feita, mas o meu Don Juan, ciente da preocupação que me atormentava, sendo amigo de longa data, achou por bem mandar-me um recado escrito na sua língua de árvore produtora, que poderíamos traduzir assim; “Amigo, para que você saiba o bem que me fez, mesmo absurdamente fora da época, ofereço-lhe a amostra do que virá ao final deste ano”. E me ofertou a flor que ilustra esta crônica!
Esse é o meu Don Juan!
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Imagem – do autor