AMOR E VIDA
AMOR E VIDA
-CRÔNICA-
Há um mundo que é coletivo para todos. Nele, as pessoas vivem e sobrevivem em meio aos tubarões que assaltam e
poluem o social. Contudo há os mundos individuais, onde cada qual é seu próprio presidente. E só esse presidente tem aces-
so ao seu “mundinho”, às vezes tão pequenino, às vezes bem maior do que possa imaginar a consciência. É sobre esse parti-
cular que teço essas linhas, buscando compreender a chave do seu entendimento.
Como qualquer ser humano, eu respiro, tenho fome, tenho sede. Como qualquer ser humano, gosto imensamente de
viver, não de sobreviver. Tento conhecer-me: pesquiso-me, estudo-me. Confesso que não é fácil traduzir sentimentos que me parecem inexplicáveis, pois vêm e vão sem que tenhamos condições de analisá-los mais profundamente. Ficam pelas “beiradas” do conhecimento, travestem-se com facilidade e não oportuniza a sua total absorção pelo íntimo, por isso, como disse, parecem sem explicação. E, entre esses sentimentos, está indubitavelmente o amor. O amor é a mola “mestra” da vida, sem ele fatalmente a criatura não vive, porém aí sim, sobrevive. Mexe e remexe com o ego, faz estragos surpreendentes, deixa marcas indeléveis que se tornam cicattrizes, no mais das vezes, inesquecíveis...
Esse “sujeito” chamado amor é um velho conhecido. Há situações em que se permite confundir-se com a paixão e o
desejo, todavia logo se identifica, porque paixão e desejo são efêmeros: normalmente chegam à noite e vão embora durante
o dia. Quando se trata de amor, a faina é fascinante e duradoura, não eterna... Não é eterna por uma razão muito simples: em
algumas ocasiões traz tanto sofrimento que, aos poucos, vai se extiguindo, pois o amor gosta igualmente de viver e quando
não muito bem representado, apenas sobrevive por um tempo mais ou menos longo, posteriormente se apaga e, ao apagar-
se, sem dúvida é de forma definitiva, eis a razão porque não é eterno. É infinito em sua essência, mas não eterno...
O amor vem sempre acompanhado de seus coadijuvantes: a ternura, a meiguice, o carinho. Esses são ingredientes in-
dispensáveis, posto que, sem eles, o amor fenece. Ao amor também é aplicado alguns predicados importantes: compreensão, união, amizade, fraternidade, solidariedade e, principalmente, cumplicidade. Parte-se do pressuposto de que o amor não é unilateral, no entanto é bilateral. As duas partes ou os dois lados têm que possuir as mesmas características de coadijuvantes, dos memos predicados. Não funciona se apenas um dos lados promove todos os seus congêneres, certamente perece o amor por não ser adequadamente alimentado, isto é, sem a recíproca verdadeira.
Evidentemente não se pode olvidar algo que é peculiar ao amor verdadeiro: a fidelidade. Quem ama, não tem olhos
para outrem. Parte-se da premissa de que somente ao ser amado deve-se a total devoção, a plena dedicação de estreitamento íntimo. Claro, estou a reportar-me ao amor carnal, àquele que causa o tesão, a volúpia, o prazer. Não me refiro aqui ao amor crístico que tem como particularidade a obervação pelo próximo, o desajar sempre o bem em todos os sentidos aos nossos irmãos, assim como Cristo ensinou e deixou expresso em seu Evangelho. O amor carnal exige renúncia, doação do eu interno, sinceridade, companheirismo. Sim, companheirismo, visto que dois seres não se amam se não forem amigos. A amizade é fator preponderante, é de vital importância para que o intercâmbio possa estabelecer-se em sua condutal moral no mais profundo do ser. Se assim não ocorrer, não existe reciprocidade e a tendência é o falecimento dos que dizem amar-se.
Inúmeros artistas, filósofos e estudiosos já tentaram conceituar o amor. Não obstante se sabe que o amor é tudo quanto aqui foi colocado, provavelmente com mais algumas assertivas. Entretanto é prudente não se esquecer de que ao amor também se aplica o respeito, a humildade e o total desprezo pelo egoísmo e pelo orgulho. Esses são ervas daninhas que destroem a convivência e maltrata deveras quem ama. Todos os que de uma forma ou de outra tentaram definir o amor com certeza não erraram ou se enganaram em suas avaliações e colocações, bem como estou convicto de que igualmente o referenciei com acertos, embora saiba que esta exposição vocabular sobre este belo sentimento não está completo e longe de mim pensar dessa forma. Muitos outros ainda surgirão e tecer comentários a respeito do mais controverso sentimento da humanidade, sempre há quem complete um pensamento escrito e assim sucessivamente.
Para finalizar, exprimo-me da seguinte maneira: um mesmo ser humano tem em si a capacidade de amar de forma verdadeira mais de uma vez. São tantas as circunstâncias da vida: morte, decepções de todos os tipos, etc. Apenas entre um e outro deve haver um espaço de tempo, porque a dualidade concomitante pode extravasar um sentimento que não é amor... Aproveito a oportunidade para de forma igual colocar que ao amor verdadeiro não se atribui raça, idade, posição social... É importante não se attribuir qualquer tipo de preconceito ao amor: ele é livre e universal.
Crônica de
Ivan de Oliveira Melo