Seresta aloprada

Quando cheguei a Pesqueira, em 1964, eu tinha completado 21 anos. Faz tanto tempo... Fui trabalhar num banco oficial. Fui um dos primeiros funcionários da agência. O gerente era um sujeito bom e nos tornamos amigos. Motivo: ele tinha uma afinidade comigo: gostava de tomar umas e outras depois do expediente. Como não tinha trazido a esposa, estava dando a carga toda. Era o tempo das serestas e serenatas. Eu adorava e o gerente também, mas ambos tínhamos nessa área mais uma coisa em comum: éramos desafinados até assoviando. Mas tirávamos de letra esse "óbice" porque nos tormanos amigos de um grande seresteiro da cidade. Detalhe: na rua central da cidade morava uma moça linda e tal gerente endoidou o cabeção por ela, sabia que não era possível nada com ela, mas mesmo assim vibrava coma moça, e ressolveu, pasmem, fazer uma serenata para ela. E um dia, depois que tomamos uns "drinques" a mais no Clube dos 50, era uma noite de chuva, aquela chuvinha fininha e um frio de lascar o cano, era junho ou julho, não lembro, ele cismou de fazer a tal serenata. Mandou um carro de praça buscar o seresteiro em casa (com o violão,claro). Mas o carro voltou sem o seresteiro, estava doente, muito gripado e com febre. Que fazer?, como diria Lenin. Depois de procurar um substitutoe não achar, o gerente teve uma idéia de professor pardal,meia louca, fomos a hospedaria da Peixe, onde ele morava e também o contadior da agência, que estava dormindo. Esse sujeito possuía uma radiola de pilha, daquelas Philips que vinhanum estojo e a gente carregava pra qualquer lugar. Acordamos o cara e ele convenceu esse suijeito a nos acompanhar levando a radiaola, um tamborete e um guarda-chuva,alémde alguns discos compactor. E fomos fazer a seresta, juro, com a radiola.

Quando chegamosnafrente da casa da moça botamosa radiola em cima do tamborete, o cara abriu, botou um disco e começou a seresta. Lembro que a primeira música foi "Tudo de mim", com Altemar Dutra, "De que é feito afinal, esse teu coração e que espécie de amor você....". Eu fiquei com oguarda-chuva protegendo a radiola da chuvinha fininha e incessante, e a mim próprioporque asmático não pode levar pingo de chuva. Sairam outras de Altemar, "Oferenda", Que qures tu de mim" e até "O Cigano". Mas aí aconteceu um imprevisto, as portas das casas se abriram, o pessoalolhava e ria, até que um médico bonachão abriu a porta e nos chamou para a sua casa, foi logo abrindo umas garrafas e mandando esquentar carne. Resultado, fixemos um "assustado" na casa dele. Vioeram moças e rapazes. Virou um forró. Mas a tal dona não apareceu, havia, por caiporismodogerente, viajado.

Pode parecer brincadeira mas o fato foi verdadeiro, e acho que é inédito esse tipo de serenata aloprada com radiola.

O tempo passou e sempre que me encontrava como gerente, em Recife, a gentge relembrava essa inusitada serenatga, e tomávamos mas e outras que ningupém é de ferro. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 18/04/2016
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