Foi de repente...

Foi de repente...

Andava esguio pelo mundo, seguro e viril de vida. Abria caminhos com meus punhos e versos e tudo estava em seu lugar.

As placas da rua mostravam a estrada que devia seguir; não me perdia nas encruzilhadas das emoções e tudo estava em seu lugar.

As prateleiras estavam arrumadas; encontrava a agulha no palheiro com um olho apenas. Tudo arrumado e organizado. Havia a certeza de chegar e sair e chegar... horário marcado; ponto assinado; dever comprido cumprido. Na volta a mesma paisagem; os mesmos encontros e desencontros; mesmo aceno; o mesmo sinal; o mesmo obrigado e o mesmo pensamento.

Nada saia da rotina natural da vida; nada escapava do controle cotidiano do mundo.

De repente...

O céu se fez estrelado em pleno meio dia; os astros enlouqueceram no cosmos; a lua canta trovas para celebrar; nada respeita mais as órbitas.

A poesia brada e ecoa o seu estribilho e o mundo aplaude e pede bis; o sorriso passa a ser agradecimento e a estrada é uma primavera.

A paisagem pinta a sua imagem e o pensamento rodopia em sua volta. Tudo está na ordem criada por você.

Os sinais de trânsito fecham para a sua lembrança passar; a poluição se recolheu para seu perfume exalar e a vida começou a bailar para lhe seduzir.

Cada coisa simples passou a ser relevante e o momento se tornou exagerado; o meu corpo baila num convite ao seu e tudo passou a comemorar a sua passagem.

De repente...

A rotina é uma ventura e a aventura é o amor saracoteando no leito.

De repente...

O último suspiro será dado no gemido de prazer causado pelo furor do corpo construído pela paixão.

De repente, o amor caiu em meu leito e dormiu em meus braços; sonho.

De repente, na curva da vida, tropecei e encontrei a pá que cavará a minha cova.

Mário Paternostro