MINHA COMPULSÃO
Na infância foram gibis. Aquelas revistas de faroeste, como o Pequeno Xerife. Comprava-as todas as semanas e tinha aos montões. Já na adolescência consegui passar das revistas para os livros. Fui adquirindo aos poucos todos os livros de Monteiro Lobato. Lia-os dezenas de vezes. A Barca de Gleyre foi o que mais me fascinou. Ensinou-me a gostar de escrever.
Ainda hoje separo alguns reais para os livros. Não os leio tão avidamente como outrora. Inicio algum e logo desisto. Dificilmente encontro algum que consiga ir até o fim.
Se hoje vocês ficam ligados no celular, até no trabalho, deixava um livro na gaveta e lia-o aos poucos , isso em pleno expediente. Chamaram-me atenção muitas vezes. Mas como dava conta do serviço e corretamente, nunca tomaram alguma providência enérgica.
Mas um dia cheguei à conclusão que tinha que parar.
Fui procurar um psiquiatra. Após longa conversa, contei a satisfação que a leitura me causava, a leitura é que fazia com que escrevesse . Receitou-me uns medicamentos para a ansiedade que porventura a ausência da leitura me causasse e agendou retorno para 60 dias.
Transcorrido o prazo, retornei.
Quando adentrei no gabinete do médico, ele abriu a gaveta e mostrou-me três livros que estava lendo, simultaneamente. Entre elas estava a Barca de Gleyre que eu tanto falei. Sem querer, tinha lhe contagiado.
Não lhe disse nada. Ele estava tão contente. Parecia que o cliente era ele.