Enganos
Tenho muito o que fazer. Preparo o meu próximo erro.
Bertolt Brecht
Falta de atenção na hora de enviar mensagens pode provocar situações bem embaraçosas. Mandei um trecho da letra de uma música em que trabalhava com meu primo para um grupo de amigas. A frase falava de um amor impossível e só não gerou fofocas, porque mandei antes um “veja se fica melhor assim”.
Também tive a meu favor a condescendência dos iguais, já que não sou a única a fazer essas bobagens. Vez em quando, nos bate papos virtuais, aparece alguma coisa fora de contexto, logo seguida de um “Desculpa! Mandei errado”.
Tais deslizes não são exclusivos da internet. Quando jovem, enviei por SEDEX um currículo para uma empresa que procurava profissional com a minha formação. O pacote chegou exatamente na data esperada, último dia do prazo. Lá em casa. Por alguma razão, o atendente inverteu os endereços de remetente e destinatário no sistema e eu perdi a oportunidade de emprego.
Não foi um caso único, mas certamente, eles se tornaram muito mais comuns pela facilidade de escolher um destinatário com um clique. No filme Um Senhor Estagiário, a mocinha coloca o protagonista e dois colegas em apuros, ao encarregá-los de apagar um e-mail enviado por engano à mãe dela.
Também já me meti em dois imbróglios, por mensagens privadas minhas reenviadas inadvertidamente a pessoas erradas e, do mesmo modo, já recebi por engano um e-mail, em que um dos técnicos alocados a um projeto que eu geria criticava minha atuação. Nem entrei no mérito. Insisti no pedido de informações que foi o catalisador da mensagem, justificando sua necessidade e acabei conseguindo o que queria.
E, por falar em conseguir o que queria, será que nosso vice-presidente é tão estabanado a ponto de protagonizar dois episódios de mensagens vazadas sem querer, uma delas, este seu prematuro discurso pós impeachment, tão otimista e conciliador? Ou tudo é parte de seu plano visando a sucessão?
Por via das dúvidas, já sei que tem muito marmanjo aí na expectativa de que a qualquer momento ele deixe escaparem uns nudes da vice-primeira dama.
Texto publicado na edição de hoje do jornal Alô Brasília.