O  ASSOBIADOR

(Diário de minhas andanças)

Dilacerando o silêncio daquela tarde de domingo, vinha um assobio.
Harmonioso e compassado, entoava uma conhecida melodia.
Destas que falam de amores, desilusões e paixões mal resolvidas.
O esmero e afinação delatavam um coração apaixonado.
Atento, eu caçava ângulos no ermo da estradinha de mato.
Subitamente interrompeu-se a melodia e o assobiador, em sua bicicleta, cruza por mim.
Tão anônimo quanto as botas que lhe calçavam os pés.
Observou-me de soslaio, fez um ligeiro gesto de cumprimento, ajeitou o colarinho e... Seguiu.
Certamente também lhe pareci tão anônimo quanto a câmera que segurava às mãos.
Um pouco adiante êle retomou os acordes melodramáticos da canção.
Deixou no ar ,resquícios amadeirados de seu “cheiro de domingo”.
A estradinha de chão batida lhe foi engolindo aos poucos e na parte mais íngreme, era ele quem conduzia,empurrada, a bicicleta.
Tudo, sem perder um milímetro sequer de sua pôse.
Furtei-lhe a imagem enquanto confabulava com meus botões:
Em que porteira deste pedaço de paraíso a musa que lhe inspira põe-se à espera de seu abraço?

Joel Gomes Teixeira