Mensagens que edificam - 175

Pensando bem,

não é de se estranhar que a fé seja tão ardentemente defendida por tanta gente. Mas quem faz mais uso ou quem precisa mais da fé? Se um milionário resolve ter um carro modelo última geração, ele vai até a concessionária e compra; o pobre se pensa em comprar um gol bola, se põe de joehos e pede ao seu deus em oração. Se um rico decide viver numa mansão, ele conversa com um arquiteto sobre o projeto e mãos à obra, ação; o pobre se pensa em sair do aluguel e construir uma meia água, começa a jejuar, faz o propósito e fervoroso espera, em oração. Se um rico deseja dar a volta ao mundo, vai à uma agência de turismo e fecha um pacote incluindo um cruzeiro pelo mar do Caribe; o pobre se sente saudades dos parentes e quer viajar para o interior para visitá-los, entra na campanha das causas impossíveis, se levanta pelas madrugadas e num clamor emocionante pede ao seu deus em oração a tão sonhada passagem de busão. Perceba que o exercício da fé é muito mais latente na miséria, na pobreza, na incapacidade de realizar pela ausência total de recursos financeiros e o que resta é interceder e apelar para aquilo que é o seu sustentáculo que por vezes, em transe, protela um esgotamento que leve à loucura. Querer e não poder faz as pessoas mais vulneráveis e suscetíveis a atitudes de demonstração de apego ao "desconhecido". Fé, na prática, é algo para quem não pode, mas quer, ao passo que quem pode não precisa de fé, se algo quiser. Quem pode compra e leva pra casa, quem não pode, se rende à uma penitência, à uma promessa, um voto, uma ladainha, à uma prece, à um ritual, à um trabalho religioso, à um jejum, à subir um monte pelas madrugadas, à uma romaria, uma campanha de sete sextas-feiras, à um passe, um despacho, e mais uma infinidade de coisas que traduzam a intenção de que o seu sonho seja realizado. Onde falta dinheiro no bolso sobra fé, onde falta saldo na conta bancária a fé faz a farra. A fé se manifesta num querer que se não vem pela mecânica econômica, vem na marra. E é por isso que por tantas vezes a fé é a expressão da estagnação, uma vez que o mundo não é movido à fé, mas trabalho. O empreendedor trabalha e realiza, o "crente" se tranca no quarto e inerte clama ao além. Diferenças gritantes entre fazer e pedir. As maravilhas da tecnologia não são produtos da fé, mas de incansáveis pesquisas e investimentos no potencial do saber. Não posso condenar quem viva de fé, mas posso concluir que a fé poderá ser o recurso dos ociosos ou a ferramenta dos incapazes. Seja como for, o mundo já não sabe mais viver sem fé.

Lael Santos
Enviado por Lael Santos em 15/04/2016
Reeditado em 15/04/2016
Código do texto: T5606540
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