À demain, Adelan...
Foi em torno da canção La Violetera que tive meu mais recente embate com Adelan, possivelmente a mais talentosa voz feminina que a Velha Serra conheceu nas últimas sete décadas, pelo menos. Enquanto ela, no seu vigor octogenário varria seu florido quintal, assistida pela irmã caçula Cida, outro estandarte vocal da cidade, perguntei-lhe se ela cantaria um sarau que estamos promovendo em torno da obra do Poeta-mor divinopolitano, Osvaldo André. O seu sim saiu quase musicado, como são, via-de-regra as muitas emissões verbais dessa canora professora de Filosofia, agora em feliz gozo de sua aposentadoria.
E me veio, como por música, a sua disposição de executar, já a solfejar, La Violetera. E mais, veio-lhe aos lábios logo a alusão a Libertad Lamarque, que dispensa mais comentários. Senão, o que emendei, sapiente, que nem um egípcio bei, com o quase-vigor duma lei:
- A pessoa que se celebrizou no papel de Violetera, nas telas, foi outra, a espanhola Sara Montiel - para a pronta concordância das irmãs Adelan e Cida.
Aparentemente vendo virtude em minha observação, Adelan soltou mais a voz e nos brindou com um trechinho da famosa canção aludida. E o que mais gostei foi ouvir aquele ..."pa' lucirlo en el ojal..."- literalmente, comprando o raminho de violeta da encantadora ofertante, "para fazê-lo brilhar na lapela".
E com aquela demonstração, saí dali satisfeito, embora sem o mencionar à brilhante cantante, por ter aprendido que a palavra lapela, mais particularmente aquela casa sem botão da lapela dos ternos em espanhol é ojal. Palavra que deriva de ojo - para nós, olho - que eu passei tantas décadas para, agora aprender, pela maviosa voz de Adelan. Essas professoras nos ensinam até sem querer...
Será que lhe proponho ensinar-me técnica vocal?