Não dê mole para predadores (ou como escapei do assalto porque não confio em desconhecidos - verídico)
Faça de conta que vive na selva, ou na savana africana. E na selva há todo o tipo de animais. Os ruminantes que só comem vegetais e são, na maioria das vezes pacíficos, apesar de que um touro, um búfalo e até mesmo um alce cheio de chifres pode ser muito perigoso, e os predadores, carnívoros que estão sempre à espreita de presas que vivem dando sopa e prontas a serem comidas.
E, na arte da caçada, um bando de carnívoros aprendeu que é mais fácil pegar aqueles indivíduos vulneráveis, ou os moços, as crianças, ou velhos e fracos que não mais conseguem se defender, e, às vezes, aqueles que estão desgarrados do rebanho. Eis aí a técnica, escolher bem a vítima que tem maiores probabilidades de ser alcançada, abatida e comida.
E na selva humana tais princípios continuam valendo. Marginais, que não passam de predadores a fim de levar vantagem em suas expedições de caça escolhem velhinhas e tomam a sua bolsa, crianças são seqüestradas, prostitutas solitárias no meio da noite são espancadas. Políticos são atacados para que se teste o grau de união do grupo que o sustenta, e em caso de vacilo são imolados em público. Animais superespecializados no roubo disfarçado atacam com muitos artifícios o grande rebanho que marcha sonolento pela savana dando mordiscadas nos dinheiros públicos sem que ninguém perceba.
O que mais intriga é como escolhem a vítima, principalmente quando a vítima é você. Afinal estou passando um ar de desatenção, ou há em meu semblante algo que denote que eu sou vulnerável a ponto de um marginal qualquer se sentir tentado a me atacar?
Pois é, aconteceu. Estava na via Dutra, quase chegando no Rio, quando ouvi um barulho forte no carro, como se uma laranja tivesse se chocado com a lataria. Logo um carro me ultrapassou e fizeram sinal para que eu parasse. Havia umas quatro pessoas dentro do carro. Parecia urgente. Pensei, vagamente, que o pneu havia estourado. Mas, não, o carro continuava a rodar, sem problemas. O carro se aproximou e fez novos sinais, indicando que alguma coisa estava errada.
Bem, já conhecia o golpe. Você pára e os caridosos amigos cortam algum fio no seu carro, e depois querem vender uma peça que custa uns setecentos reais. Conheço, pelo menos três pessoas que já foram vítimas do golpe.
Minha mulher, nervosa, diz para eu parar. “O carro está andando, não paro de jeito nenhum. Se o pneu estiver vazio, azar. Ando no aro, Só paro num posto de gasolina”.
E não parei mesmo. Logo o carro dos predadores desistiu e fez o retorno para pegar outro trouxa. E continuei a oitenta por hora, atento aos possíveis enguiços no meu carro. Nada aconteceu.
E escapei por pouco de um possível assalto, simplesmente porque não acreditei na boa-fé de desconhecidos da baixada fluminense.
Será que já estou com cara de presa fácil? Ou aqueles marginais eram incompetentes?