Creuza no Busu
Final de expediente Creuza sai do trabalho e vai pegar ônibus indo pra casa no Subúrbio, 17h30 o ponto entupido depois de um dia estressante e uma carga horária de 10h, Creuza está em pé no ponto.
Passa uma pessoa correndo pra pegar o ônibus e dá um empurrão em Creuza, que retruca – Tá cega sua *ingraça...?, povo mal educado da porra, olha atravessado se balança toda, ai, ai, ouxeee.
No ponto os mais baixos ficam na ponta dos pés pra ver se o seu *busu tá vindo, os mais altos ficam na frente tomando a visão, é um inferno – A cara das pessoas são de seriedade, apreensão e insatisfação, todo mundo injuriado.
Creuza espera impaciente, olha o relógio, quando levanta a vista lá vem o seu ônibus, Creuza corre dá a mão e o motorista passa por fora, *fdp, xibungo, não tem mãe não é miséra???
Uma pessoa do lado fala: é minha filha essas *carniça acha que a gente tá aqui brincando, tô aqui cansada, com uma dor *nas perna miserave, pior que meu ônibus só passa lotado, Ilha de São João, e só tem 2.
Creuza, *affffff, o pobre se lenha aqui viu, essa tal de Integra piorou foi tudo.
Quando menos todo mundo espera um moleque puxa o celular de uma mulher e atravessa a rua correndo no meio dos carros e some.
Desgraçado, ainda nem acabei de pagar falta 6 *prestação.
Outra fala: eu desconfiei dele Ninha, rondando, fingindo que tava esperando ônibus, nem ia adiantar avisar a gente nunca sabe a hora que ele vai roubar e nem sabe quem.
Outra comenta isso a mãe coitada tá em casa e nem sabe, outra diz: às vezes até sabe milha filha, outra comenta: como é que não trabalha e chega em casa com celular novo e a mãe não diz nada, eu hein!?!
Passada a agonia, lá vem o ônibus da Creuza, *“té logo” coisinha.
Ônibus lotado - Creuza passa se apertando procurando um lugar pra sentar não, pra ficar melhor em pé, depois de esperar por 1 hora – passa uma mulher com uma bolsa, uma sacola com a marmita e uma sacola do bom preço, esmaga Creuza contra o ferro e uma mulher que está sentada no corredor.
A mulher sentada reclama – *ouxe quer me esmagar é?, mas o ônibus tá cheio não posso fazer nada, passa um “pião” e para atrás de Creuza, ela se balança pra ver se o cara se toca e nada, Creuza – moço dá pra chegar pra lá?, Ah o ônibus tá cheio moça – sim mas saia de trás de mim sua *ingraça, ouxe minha senhora precisa isso – tudo se aclama.
Tem uma criatura em pé abraçada ao ferro falando no Whatsapp, rindo e mascando chiclete, nem dá importância a quem passa, outra fala no celular como se estivesse em casa – Ah! Ninha ela vai pagar meu dinheiro que ela comprou na revista da Avon, ainda mais que é carnaval, ouxe vou na casa dela e armo maior *rebucetê lá, ela vai dar meu dinheiro todinho aqui na minha mão, se não tinha pra que comprou, ela peça ao macho dela ou a uns e outro que ela pega, o cara casado da EMBASA, eu sei que eu quero meu dinheiro, vou na Barroquinha comprar um short na pegada vou atrás do *chicrete no bloco sem corda daquele jeito.
Creuza consegue sentar, que alívio!, ao lado dela senta uma criatura forte, o cabelo emendado, sujo, com aquele cheiro de cachorro doido, o braço *“peguento” de suor, Creuza se encolhe toda, de repente um cidadão com aquela inhaca se encosta em Creuza olha de lado e o cara nem ai, Creuza se levanta aos brados, “vem cá vei, meu ombro é prateleira de ovo meu filho”, chega pra lá va se roçar em sua mulé, ai a confusão se estabelece, leva pro posto motorista, tem um safado aqui, o cara passa pro fundo meio atordoado, ouxe eu nem fiz nadam *mulé estressada da porra – o ônibus segue viagem.
Finalmente depois de duas horas e meia Creuza chega em casa, e os meninos gritam logo – mãe trouxe pão, bota meu café, o marido - Nega bota meu jantar, depois de fazer mais algumas tarefas de casa mesmo depois de um dia cheio, Creuza senta no sofá e cochila, desperta alguns minutos depois, levanta, toma um banho e deita, aliás demais na cama porque amanhã começa tudo de novo.
(*) Linguagem regional usada no cotidiano por algumas pessoas.
(by, Roserval Du Carmu)