O EFEITO ZOLA
Ao tomar o partido dos taxistas na luta contra a apropriação ilegal de um serviço público por uma empresa que prega a desregulamentação do setor com as mesmas falácias neoliberais do Estado mínimo, percebi que a minha voz estava solitária, pouquíssimos cidadãos se solidarizaram com o meu engajamento. Por sorte, foram os mais inteligentes que se colocaram ao meu lado. Os aplicativos, que exploram o serviço e o ofício de terceiros, querem impor uma ideia que prostitui as relações trabalhistas, corrompe a ordem tributária, além de desorganizar e desumanizar ainda mais a qualidade de vida nas cidades. Alguns justificam, sem refletir, que isso é o futuro inevitável. Estão enganados, a origem tecnológica dos aplicativos não significa prosperidade, cada vez mais assemelham-se a presságios de empobrecimento e degradação das relações humanas.
A questão dos taxistas me soou como um alerta, não um sinal discreto, mas uma sirene espalhafatosa disfarçada pelo mantra da livre iniciativa. Nem é livre nem é iniciativa, é a pior espécie de lucro, é a vinculação do trabalho à filosofia servil, explorado por uma corporação estrangeira que subverte todos os direitos que ainda queremos preservar. Os taxistas são as primeiras cobaias de um experimento que despreza o trabalhador e eles reagiram como reagirão todas as cobaias submetidas a um tratamento impiedoso: gritaram, se contorceram pela angústia e foram agressivos quando sentiram a dor das feridas.
Assim como alguns grupos políticos, os táxis também foram vítimas de uma campanha midiática destrutiva; de um lobby agressivo comprado em dólar; da ânsia de um entreguismo provinciano; de uma promoção incansável de episódios negativos, preconceituosos e humilhantes. Não havia contraponto, só a omissão ou o coro insano que exalava um fétido ódio de classe. Fiz o papel de uma formiga que marcha na contramão da colônia, desafinando as vozes que pareciam hipnoticamente uníssonas. Na minha caixa de mensagens chegavam recados de pessoas avessas ao pensamento crítico, me transmitindo links e argumentos hostis que ofendiam a necessidade de criar um discurso que preservasse profissionais honestos da difamação e do massacre das acusações genéricas. Não agi por um corporativismo que não me cabia ou por um sentimentalismo às avessas, me guiei pela consciência.
Há poucos dias, acometido por uma insônia indesejável, assisti a um filme biográfico sobre o escritor Émile Zola, que no final da vida, opondo-se ao ódio generalizado de uma sociedade xenófoba, também foi a voz isolada que consolou o judeu Alfred Dreyfus, um oficial francês acusado de traição. Dreyfus era inocente e a voz solitária de Zola ecoa até hoje nos livros de história como um brado corajoso da verdadeira justiça.
Ao tomar o partido dos taxistas na luta contra a apropriação ilegal de um serviço público por uma empresa que prega a desregulamentação do setor com as mesmas falácias neoliberais do Estado mínimo, percebi que a minha voz estava solitária, pouquíssimos cidadãos se solidarizaram com o meu engajamento. Por sorte, foram os mais inteligentes que se colocaram ao meu lado. Os aplicativos, que exploram o serviço e o ofício de terceiros, querem impor uma ideia que prostitui as relações trabalhistas, corrompe a ordem tributária, além de desorganizar e desumanizar ainda mais a qualidade de vida nas cidades. Alguns justificam, sem refletir, que isso é o futuro inevitável. Estão enganados, a origem tecnológica dos aplicativos não significa prosperidade, cada vez mais assemelham-se a presságios de empobrecimento e degradação das relações humanas.
A questão dos taxistas me soou como um alerta, não um sinal discreto, mas uma sirene espalhafatosa disfarçada pelo mantra da livre iniciativa. Nem é livre nem é iniciativa, é a pior espécie de lucro, é a vinculação do trabalho à filosofia servil, explorado por uma corporação estrangeira que subverte todos os direitos que ainda queremos preservar. Os taxistas são as primeiras cobaias de um experimento que despreza o trabalhador e eles reagiram como reagirão todas as cobaias submetidas a um tratamento impiedoso: gritaram, se contorceram pela angústia e foram agressivos quando sentiram a dor das feridas.
Assim como alguns grupos políticos, os táxis também foram vítimas de uma campanha midiática destrutiva; de um lobby agressivo comprado em dólar; da ânsia de um entreguismo provinciano; de uma promoção incansável de episódios negativos, preconceituosos e humilhantes. Não havia contraponto, só a omissão ou o coro insano que exalava um fétido ódio de classe. Fiz o papel de uma formiga que marcha na contramão da colônia, desafinando as vozes que pareciam hipnoticamente uníssonas. Na minha caixa de mensagens chegavam recados de pessoas avessas ao pensamento crítico, me transmitindo links e argumentos hostis que ofendiam a necessidade de criar um discurso que preservasse profissionais honestos da difamação e do massacre das acusações genéricas. Não agi por um corporativismo que não me cabia ou por um sentimentalismo às avessas, me guiei pela consciência.
Há poucos dias, acometido por uma insônia indesejável, assisti a um filme biográfico sobre o escritor Émile Zola, que no final da vida, opondo-se ao ódio generalizado de uma sociedade xenófoba, também foi a voz isolada que consolou o judeu Alfred Dreyfus, um oficial francês acusado de traição. Dreyfus era inocente e a voz solitária de Zola ecoa até hoje nos livros de história como um brado corajoso da verdadeira justiça.