A olho nu
Com a cara de poucos amigos, ela passa e emudece ainda mais o silêncio das esquinas. Toda fechada a sua objetividade. Aliás, para que mesmo, evidenciar o inesperado, se para ela o mundo é sempre estável? tudo é a razão e o som de sua vida ecoa sempre em suas vozes.
“Não te disse, eles são todos iguais”
“ok, ok... a vida é assim”
“Certo, faça isso... sempre dá certo”
“ esse? (olho) é irmão desse”
“ Quem disse que eu nasci hoje, tenho 30 anos, meu filho”
Sua segunda-feira, com a paisagem de sempre, cenarizava a previsibilidade de seu mundo. Hoje, ela arruma seu cabelo, põe o salto que mais exalta a sua firmeza e poderosamente vai ao seu trabalho. Sua feição fria (para não variar) é o cartão postal daquele dia normal. Analisa escritos, sobre escritos e entre eles um chama a sua atenção... Uma letra mal escrita, prova mais autêntica da ausência de coordenação motora do ser humano, num sentido quase ilegível, naquelas pobres grafias em que diziam que a vida era menor que tudo aquilo que segurava seu salto, mesmo emborrachado, firme... Foram amolecidos pelas lágrimas que naqueles minutos tocavam o chão de Elisa.
Há bastante tempo, seu rosto não era apresentado a quentura de seu choro salgado nas lágrimas. Todavia, isso não era para Elisa. Vai discretamente ao banheiro, olha no espelho e não se vê, o tempo voa e ela procura sua base, com rapidez vai aos poucos espalhando-a, tapando os poros molhados de seu rosto, eles nunca tiveram tão abertos a olho nu. Ah, mas Elisa é a Elisa... com seu tom sério volta a normalidade de seu dia.
E nunca ninguém soube que aqueles olhos tão secos em sua pouca umidez, tinha sido transbordados na Elisa de sempre e de poucos.