Crescer é partir
Hoje me bateu uma grande agonia misturada com saudade e alegria. Sempre fui muito reflexivo sobre a vida e sobre meus argumentos internos tão relevantes de fato ao que realmente sou. Parei diante do "meu tempo" e reportei-me quando eu ainda tinha apenas uns dez ou onze anos. "Cara, foi pauleira o que senti!". Eu corria e corria por uma terra arada no meio de uma plantação de milho. Correndo um pouco mais já me via dependurado em pés de manga ubá, uma das melhores qualidades que conheço aqui na minha região. Andando e saltando um pouco mais me via espantando as galinhas da nossa farta horta. Ali, na minha pouca idade, já sabia que galinhas e hortas não se batiam. Estava eu na minha tão grande e pura inocência protegendo os pés de alface, as couves, mostardas, almeirão. Eram várias as qualidades de alfaces, desde as lisas, manteigas, passando ainda pelas crespas e culminando nas roxas. A agonia que me bateu tem muita importância em minha vida, principalmente no que tenho vivido desde o falecimento do meu saudoso pai. Ele presenciou e me ensinou muitas coisas, como pois, não agonizar-me diante de tanta coisa boa que vivi? A esta agonia darei os nomes de saudade e vida. Nasci na cidade, mas criei-me num sítio. Aprendi a montar ainda pequeno, arrear os cavalos, ordenhar cabras e vacas da raça Jersey. Cresci amando aos animais que fizeram parte da minha infância. Recordo do nome de todas as vacas até hoje! Lembrei-me da linda égua Sinai, uma manga-larga imponente e arisca. Debati-me de saudade do pônei negro chamado Kizono de crina longa caída nos olhos e da pônei branca de manchas marrom chamada Cobiça. Enfim, esta agonia me fez reportar e ao mesmo tempo entristecer de como foi duro deixar a minha infância. O tempo passou rápido, veio o primeiro beijo, a primeira paixão, a primeira decepção amorosa, veio doenças. Deparei-me dentro de um hospital lutando para viver, veio o falecimento do meu pai quando eu ainda estava internado. Bom mesmo era quando eu apenas me preocupava em apanhar mangas doces no pé, encher minhas sacolas de jabuticaba dos oito pés que eu venerava tanto. Bom mesmo foi jogar aquele tanto de milho e reunir aquele monte de frangos e frangas no terreiro. Feliz eu fui quando eu arrebanhava todas as cabras e seus filhotes no pasto. Bom me era quando eu apanhava da mula chamada Boneca para que ela deixasse que eu a selasse. A saudade da infância bateu e isto me fez pensar e repensar o quanto que dói a gente crescer e deixar as coisas boas da vida para aventurar neste mundo de gente grande. Contudo, creio que tenho feito meu papel com zelo, tenho enfrentado a mim mesmo na esperança de que amanhã ou depois eu possa dizer: foi duro crescer, mas venci. Todavia, até aqui muito tenho a agradecer, até mesmo porque estou tendo a oportunidade aqui de relatar um pouquinho de mim. Crescer doeu, relembrar doeu, mas saber que a dor pode ser revertida em aprendizado me faz sentir menos mal. É basicamente este um resumão do que é sentir saudade dos momentos que muito me marcaram. Aos trancos e barrancos e sabendo que crescer é ir partindo sem se dar conta, ainda estou de pé!