O poder do dinheiro
O poder do dinheiro
Hoje amanheci pensando. Isto é um fenômeno singular no meu cotidiano. O pensar faz doer a minha cabeça. As ideias ficam sacudindo os miolos de um lado ao outro como se a caixa craniana fosse um liquidificador ligado a toda velocidade. O pior é que acordei vendo à minha frente o cifrão do real, imaginando o que ele poderia me ajudar a comprar.
Sempre defendi que o entesouramento é inversamente proporcional ao lazer que deixamos de usufruir. O fator sorte não combina comigo, pois este negócio de loteria, jamais fez parte do meu dia a dia. Existem pessoas que ficam ricas de uma hora para outra. Não vejo com bons olhos a riqueza desassociada do trabalho.
Há alguns anos Rui Barbosa disse que chegaríamos aos tempos em que teríamos vergonha de sermos honestos. A letra de uma música atual diz: “se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão”. Este refrão assusta qualquer pessoa de bom senso.
Rui Barbosa não estava preocupado com os presidiários em si, mesmo porque na sua maioria, não são ladrões por opção, mas sim, por absoluta necessidade. Acredito que em nossas penitenciárias tenham pessoas de valor, como acredito que em nossa sociedade existem ladrões que usam fraque e cartola.
Para mim, o ladrão não é, e nunca será apenas aquele que rouba para comer. São ladrões de uma mesma fornada todos aqueles que nos tiram direitos vitais.
A moeda que deveria ser apenas uma mercadoria de troca como uma outra qualquer, passou a ter nos nossos dias um poder sobrenatural. Pois as pessoas que detêm esta mercadoria, se acham no direito de subjugar os seus semelhantes de maneira sórdida e até ridícula.
O que mais me deixa desencorajado é ver que o poder do dinheiro está corrompendo pessoas importantes da nossa sociedade, justamente as que deveriam nos dar exemplos de dignidade. Eu não sei como estas criaturas conseguem olhar nos olhos dos seus filhos quando são reconhecidas e chamadas de ladrões em praça pública. Na minha concepção estas “autoridades” jamais deveriam ser presas, a prisão para elas é, no fundo, um prêmio, pois a cadeia pode ser um abrigo seguro, na maioria das vezes, altamente protegida pelo Estado. Elas deveriam ser obrigadas a andar nas ruas com roupas especiais que as distinguissem das pessoas comuns. Um castigo como este seria bem mais econômico para a população que paga impostos. Quem sabe assim o nosso vil metal não tivesse tanto valor e, John Lennon não precisasse fazer versos como esses... “Imagine um mundo sem posses/sem necessidade de ganância ou fome”.