Deve ter sido mais ou menos assim. Vou contar na forma de conto, mas é uma crônica.
O Segundo-Cidadão (vamos chamá-lo assim), chamou seu secretário:
_ Ô Tobias! (Vamos chamá-lo assim)
O secretário foi correndo, pois sabia que o second citizen (posso escrever desse modo, depois que essa língua virou nas ruas nossa língua oficial, além do mais a noção de first citizen é de origem estadunidense) estava naqueles dias. meio nervosinho, ante a expectiva iminente de se transformar em Primeiro-Cidadão. Ele estava com medo daquela pressão esquisita que estava lhe entregando o primeiro lugar entre os cidadãos da Ilha da Fantasia. Tobias então foi correndo.
_ Sua Santidade me chamou!
_ Sim, caro Secreta! Me ajude aqui com esse celular. Escrevi um pronunciamento à nação e queria gravá-lo. Como é que faço?
Tobias estranhou. Primeiro, porque ele nunca escrevia seus próprios discursos. O que seria o correto, pois como dizia Winston Churchill, só os políticos medíocres escrevem seus próprios discursos. E o secundo civis fazia um esforço desmesurado para não se passar por medíocre. Segundo porque Tobias achava uma burrice tremenda se pronunciar assim, contando com o ovo no _ _ da galinha.
_ Sua Santidade tem certeza disso? Não acho o momento conveniente...
_ Ô Secreta, eu não te pago com dinheiro público para você dar palpite! Me ajude aqui rápido.
O secreta foi explicando o que fazer com celular. Então ele gravou 13 minutos de blablablá cheio de choro, traição, medo e ovos de serpete disfarços como se fossem de pomba da paz. Daqui para frente variam as versões. Vou contar a do próprio deuxième citoyen. Versão que o passa por ignorante nessas artes da tecnologia, mas agride menos sua inteligência.
_ Pronto gravei Tobias! O que faço agora?
_ Aperte "delete"!
_ Cê acha mesmo?
Já estava meio reticente. Uma coisa era escrever uma carta de traição. Outra era ouvir na sua própria voz destilando veneno. Então resolveu:
_ Pronto, deletei!
Então apareceu: "enviado com sucesso".
_ Santidade, o senhor enviou em vez de excluir. Agora o Senhor está no _ _ do Zé Esteves (o Secretário era goiano).
_ Oooooops! Foi maus! Foi sem querer. O que eu falo para a nação?
_ A explicação que o faça parecer menos burro!
Então Tobias pensou: "empatetou de vez!".

_ Pode ir Secreta, mas antes me diz uma coisa: quem é esse Zé Esteves?

 

♦

 

Amanhã falarei, se não estiver com preguiça, sobre traição e aproveitarei para tirar alguma moral dessa história.



Goiânia, 12 de abril de 2016.
 

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