Luz e trevas
Onde está o bem e onde está o mal? Para muitos isso é complexo e até matéria de estudo. Para outros, isso é claro como água. Os primeiros são receosos e podem se afundar em teorias e pesquisas que não tem fim. Os segundos são os que tem certeza de tudo, bem próximos do fanatismo ou, quem sabe, fanáticos mesmo, escondidos sob a capa de ultra ortodoxos ou fascistas.
A verdade é que o mal pode estar em qualquer lugar, porque ele se ajusta, ele se molda às situações. A maldade está tanto em quem duvida quanto em quem tem todas as certezas. Quem duvida talvez erre por omissão e por vacilação, mas quem tem certeza erra por inteiro, erra por má intenção ou má fé, erra por querer que a realidade se ajuste às suas próprias crenças ou pior, por querer que as pessoas se ajustem às suas próprias convicções. O certo é que nem a realidade pode ser do jeito que queremos – inclusive porque todos queremos coisas diferentes – e nem as pessoas estão nesse mundo para preencher nossas expectativas.
Pesquisadores esotéricos afirmam que Jesus estudou com os essênios. Os essênios diziam que Deus é escuridão, Deus não é luz. Essa concepção vem, em certa medida, do fato de que a escuridão é eterna e a luz é temporária. A luz é um fenômeno que ocorre no tempo e depois finda. Se considerarmos que Deus é eterno, a escuridão estaria mais próxima da sabedoria divina do que a luz.
Nos séculos que precederam a revolução das instalações elétricas e da iluminação por esse meio, percebia-se a realidade, à noite, em termos de luz e sombras. Hoje, tudo, à noite, é iluminado com uma nitidez sem igual para nossos antepassados. Essa “assepsia visual” produziu duas guerras mundiais, bombas e mísseis nucleares e muita, muita miséria. Luz? Eu não estaria certo em afirmar que o nosso projeto de civilização foi bem sucedido.
Mas nada está perdido. Talvez de todo esse mal, consigamos extrair um bem supremo. Como? Percebendo que nossas falhas são resultado de atos sem consciência que não estão em sintonia com o fluxo da existência. A luz que clareia o sábio é a mesma que pode clarear o ignorante e as trevas que abatem o ignorante também são as mesmas que podem afligir o sábio. A diferença é o que cada um faz com a luz e com as trevas dentro do seu coração.
Onde está a luz? Dentro de cada um de nós há uma fagulha divina, mas só pode ser acessada individualmente. As práticas de meditação, oração e retiro espiritual podem nos trazer iluminação, quietude, discernimento e sabedoria. Podem nos mostrar o caminho para esse enlevo. É necessário sabermos dosar a iluminação e a escuridão dentro de nós mesmos e ao nosso redor. Paz e luz.