De luto
Estou de luto. De luto e inconformada! Era tão jovem! Por que resolveu sonhar tão alto? Aliás, a moça tinha tantos sonhos, tantos projetos e agora tá assim: morta. E o pior, até agora, ninguém sabe do ocorrido. Como que eu conto sobre a morte de alguém? Difícil. Talvez, nem acreditariam em mim, a moça estava tão bem! Ou acreditariam? Não sei. O médico disse que a causa da morte foi sufocamento. Que coisa horrorosa! Como conto isso pras pessoas, doutor? Não dá!
Poxa vida! Uma menina tão nova! Lembro dela sorrindo enquanto entregava flores pras pessoas na rua. Não sei porquê ela fazia isso, mas ela fazia. Todas as manhãs ela saía entregando flores. Seu Antônio guardava todas. Como vou contar pra ele da pobre menina? Santo Deus! Ele ficaria sem chão, mas também sentirá falta das flores um dia. Todos sentiriam. Uma boa menina, dona de um enorme coração. Talvez, esse seja o real motivo de sua morte. No laudo médico diz que o coração dela estava cheio de uma substância tóxica e o cérebro estava infestado de preocupações. Morreu. Vocês não a reconheceriam. Não tem mais flores todos os dias, nem sorriso no rosto. Foi tudo embora. Pobre menina! Ela própria se enterrou, como disse o médico, se sufocou. Em sua garganta, acharam diversas palavras que ela queria, ou devia, ter dito. Seu coração parou de tanto amor. Não aguentou, ela amava tudo, demais. Na cabeça, o cérebro se acelerou com tantos pensamentos. Se, por algum acaso, vocês a virem por aí e a acharem muito diferente, já estão avisados. A moça está irreconhecível, como lhes disse. O que houve com essa menina, doutor? A doçura dela foi embora. Acabou. O que restou? Ninguém sabe, acho que nada restou. Nem ela deve se lembrar de quem, um dia, ela foi. Se sepultou, e levou com ela todos os sonhos puros e inocentes. Seu epitáfio foi o que me assustou, em sua lápide estava escrito: "Morreu porque se cansou".