Aquela Coisa Que A Gente Costumava Sentir

Primeiro as mãos suavam. Você lembra? Então, aquela famosa sensação de borboletas no estômago começava. Aquela ansiedade misturada com o lado incrédulo do cérebro de que aquilo tudo estava funcionando. De que realmente estava acontecendo.

Então, vieram os sorrisos. As ligações demoradas até quase madrugada. As mensagens seguidas de sorrisos e todas as formas de retrata-los em mensagens de textos desses aplicativos de hoje em dia. Músicas, trechos, fotos, piadas e fazendo sempre questão de ser visto.

Éramos loucos. Você lembra? Ríamos alto e de algo completamente sem graça. Mas uma risada contagiava a outra, e a felicidade que transbordava se misturava naquela risada e por aí seguia, aumentando, fortificando aquele sentimento lindo. O amadurecimento dos corações. A força de vontade introduzida na ideia de estar sempre juntos. Não havia tempestade ou tufão. O mundo podia estar acabando, mas as mãos estavam dadas. Suadas. Com os olhos cheios d’água de tanto rirem.

Declarações. Você lembra? Não foram dadas flores como presentes, mas era o tipo de coisa que apenas um olhar mais doce, seja franzindo a testa ou respirando de uma forma diferente. Era algo passado por osmose de um corpo para o outro. Algo que talvez fosse a definição de alma. Era gostoso, não era? Era bom. Passear. Olhar a paisagem.

E aquela coisa que a gente costumava sentir? Você se lembra? Aquela alegria. Aquela vontade de estar perto sem se preocupar com o dia seguinte. Aquela vontade de, se a semana fosse apertada, passar apenas dez minutinhos ao lado. Apenas pela energia do toque. Apenas para ter certeza que ainda dava choque. De que ainda estava lá. Com todo histórico, com toda força, com toda a afeição desenvolvida em um período breve demais, mas com a força de séculos de fortificações sentimentais. O tempo que se move em direção a um futuro incerto hoje. Séculos resumidos em segundos de repente. Segundos com rusgas. Rusgas que mancham. Que enfraquecem. Que desfazem elos e criam incertezas. Dor.

A mente já não para quieta. A imaginação pessimista desemboca em rios negros de dúvida e desilusão. Por mais que ao olhar no espelho veja-se força, ainda que ligada a aparelhos em pleno funcionamento. O remédio para acostumar. Não interferir na cura, apenas adiar ou diminuir sintomas. Sintomas que não se enxerga. Sintomas que requerem observação imediata, planejamento. O não estar por perto já não incomoda. A distância se torna aliada para evitar embates. A voz está fraca, ou quase muda...

E na bagunça de sentimentos. Na turbulência de lembranças. Ainda procuro aqueles que servem como bateria. Ainda busco pilhas de energia. Engrenagens ativas. Pois aquela coisa que a gente costumava sentir, por mais embaçadas que estejam. Impulsionam. Fazem crer. E a vida toma a frente do que há de vir.

Fael Velloso
Enviado por Fael Velloso em 11/04/2016
Reeditado em 11/04/2016
Código do texto: T5602279
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