Tiro de Misericórdia

Faço uma pausa no lenga-lenga político, não dá para ficar batendo na tecla do samba de uma nota só. Volto aos causos de Pesqueira. Se já tiver contado peço pardón, mas não me lembro de ter contado.

Eu era amigo de uma patota que bebia num boteco da Rua Barão. Era sair do banco e ia pro boteco assinar o ponto. Não era só porque gostava de tomar umas lapadas de cana e lavar com aquela Brahma de antigamente estuoidamente gelada, degustando um tira gosto de alto nível (o único), linguiça do sertão assadinha numa tacha e com uma farofa com água, sal e coenro e cebolinha (um maná dos deuses), mas também o papo de quiabo, anedotas, boatos, fuxicos, e todos metendo o pau na ditadura, era o tempo do Medice.

Um dos mais radicais críticos da ditadura era um guarda da peste do DNERU - Departamento de Endemias Rurais, Zezinho, um sujeito esclatecido, muito educado, falava bem explicado, quanto mais bebia mais ficava educado. Mas tinha um problema: detestava ser chamado pelo apelido: Zezinho Caça Rato. Nunca o chamei pelo apelido, mas não sou santo, quiando alguém se referia a ele com o apelido e ele roodava a baiana eu gostava, uma fraqueza minha essa de gostar de ver alguém perder o controle, mas gostava muito de Zezinho.

Nesse dia ele estava metendo o cacete em Medice porque Joaão Saldanha fora demitido de técnico da Seleção. Dentre os membros da patota havia um sujeito que era funcionário da prefeitura mas nunca dera um dia de serviço, leva a vida a zonar com os outros e tomar umas e outras. Ele vivia azucrinando Zezinho, chamando-o de Caça Rato, inventando estórias. E o pobre pedindo educadamente: "Zezé, me deixe em paz, não me faça perder a paciência". E o sujeito aumentando a zona, gozando, apelidando, inventando estórias, Caça Rato pra cá, Caça Rato pra acolá, atéque Zezinho não agentou mais e disse:

- Pedi a fazer educadamente, você não quis ouvir, continuou me apelidando e me irritando, portanto, agora não vou nem retaliar (bem explicado) vou é lhe dar o tiro de misericórdia.

Zezé riu e desafiou:

- Só se você vai me dar um tiro com o cu.

Zezinho deu mesmo o tal tiro misericórdia:

- Não é esse o tiro que vou dar, v ou lhe dizer o que você não diz e que todo mundo sabe: comi a senhorqa sua mãe, sua genitora, por vários anos.

Nunca mais Zezxé chamou Zezinho de Caça Rato. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 11/04/2016
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