A CONTRADANÇA

"O erotismo é uma das bases do conhecimento de nós próprios, tão indispensável como a poesia."

Anais Nin.

Já que estamos no baile desde o início, continuemos a dançar. Porque a música é sempre convidativa, no mínimo, ao canto. Pena que pode faltar luz no salão, e aí “todos os gatos são pardos”, como diria a filosofia popular. Cantaremos ao ouvido, em lusco-fusco. Cuidado, só não me pisa no dedão direito, que está lastimado! E eu estou usando chinelo-de-dedo... Coisa de viciado sapeca, que não quer perder a contradança e nem descolar do corpo da parceira. Quando chegar o finzinho do baile, haverá algum lugar na horizontal onde seja possível jogar as carcaças ao ócio. Sussurros dizem que há um cemitério abandonado por perto e que tem servido aos cansaços. De tanto serem pisoteados, é o que a vida tem a oferecer, por ora, aos corpos cansados da vertical...

– Do livro POESIA DE ALCOVA, 2015/16.

http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/5601351