MEDO E ILUSÃO.

MEDO. POR QUÊ?

O medo nasce e desemboca em nossas fragilidades, todas.

Espreitam nas esquinas da vida todas as surpresas possíveis, boas e más, nestas habita o medo.

O medo é material – corporal e memorial – e imaterial – anímico, emocional e imemorial. Já nascemos com o sinal do medo, choramos para aspirar e respirar a vida – nosso maior bem – e seu alimento, o oxigênio.

O choro é a salvaguarda de que vamos viver, mas ele já estigmatiza o “vale de lágrimas” em que estamos entrando.

Se é o sinal de vida e a vida o oxigênio inalado, a festejar a energia vital de todos, ele, o choro, raramente manifesta alegria.

É o sinal da fraqueza e a própria fraqueza, embora festeje e celebre o milagre da vida que enche os pulmões.

As lágrimas serão presença e apêndice da existência. Essa energia vital que nos vem do oxigênio, da respiração que faz a vida circular no caudaloso rio de plasma, é a mesma que poderá abrir as portas à inteligência interrogativa pela meditação.

Ninguém irá afastar ou exaurir em sua jornada o temor, o medo, projetado em tantas e tantas hipóteses viáveis.

Medo de perder seus entes queridos, medo de perder sua sobrevivência necessária, seu emprego, sua segurança, toda essa ordem de impositivos corolários da vida.

Como sinos martelam nossos pensamentos e se fazem ouvir acercando-se de nossos minutos, dias, ações, atividades.

Subjuga e domina, imperativo e imperioso.

Podemos afastar essa procissão indesejada, essa sonora orquestra a cuja récita não fomos por vontade própria ?

Não! Precisamos aprender a conviver com eles, os medos todos. É fácil? Não!

Pelo processo de sublimação pacificamos, entenda-se, pacificamos sem afastar a grande barreira do medo, barreira que por vezes não nos deixa fazer nada direito.

A insegurança, o medo, cerceia qualquer ação, tornando-a inepta.

É possivel sublimar, colocar em patamares mais altos outras emoções, purificando esses temores.

A meditação, ao menos o singelo enfoque de que nada podemos contra o que é ponto intransponível da jornada, entendendo e admitindo que é esse o caminho a ser trilhado e enfrentado, trará mais amenidade e talvez o pleno estágio da compreensão.

Temos que sofrer, ninguém veio ao mundo só para festas.

Um dos meus entes mais queridos, em frase de emoção, disse certa vez e escreveu que “depois de sua morte compreendi que a vida é uma ilusão que mata”, falava do filho que perdeu.

A vida, ‘UMA ILUSÃO QUE MATA”. Se Deus criou o universo “informe e vazio” e, no cisco que é o planeta terra diante do universo colocou o homem, foi para deixar certo que a vida inteligente tem que exercer a inteligência, sofrendo e sendo feliz, cada fato em seu momento.

Não fosse assim, viveríamos só de instinto como os animais. Sendo o medo meramente instintivo, não carregaríamos por toda a jornada como ser mais excelente da criação, o medo.

Vivamos o agora, o “carpe diem”, e deixemos o medo seguir sem tocá-lo a cada instante.

Não há como retornar à vida cotidiana aquele que chegou a um pouco de compreensão, iluminação.

Se o caminho é revelado, caminhemos nele.

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A INDÚSTRIA DO MEDO.

Qual indústria? A própria vida. Por quê? Medo de perdê-la. Li hoje uma famosa artista que ficou doente e está em recuperação dizer: “pensei que meu tempo tivesse acabado”.

O tempo só não acaba para o próprio tempo, digo sempre, só ele é testemunha de si mesmo. Só ele sabe quais as modificações que existiram no mundo e no universo, no cosmos. Assiste soberano a tudo que os limitados homens não explicam. Tivesse seu livro escrito, tudo estaria lá, assentado sem caminhar na dúvida. É única testemunha presencial....

De nada adianta a física e a antropologia fazerem as costumeiras digressões, e mudarem afirmativas, e progredirem....pouco...quase nada.

Progrediram sim, as ciências curativas e preventivas. E é bom repetir quanto se deve a Salk e Sabin, quantas vidas deixaram de ter “paralisia infantil”, exércitos de infantes. Reverência ilimitada é pouco para estes “anjos das crianças” e das vidas libertas em movimento. Outras causas de paralisia acometem as crianças que vemos nas ruas, sofridas e sofrendo com seus pais.

Não se escapa do tempo e da indústria do medo. Das fobias que não são poucas...tantas que são impossíveis de listar, englobadas desde medo hoje de avião, ao medo de baratas, etc.

Mas o grande medo das perdas é do maior bem, a vida. É o medo hierárquico no vértice de todos os medos. Compreende-se...é o maior valor, dele decorrem os outros, todos. Por isso poucos entendem a razão de se buscar A VIDA ETERNA, sob promessas. Como dizia o poeta romano Lucrécio, deuses e credos foram criados pelo medo da morte.

Só uma ascese verdadeira e despojada pode entender esses segredos que se volatilizam no cosmos.

Conheço alguns, com medo, presos em suas casas faz mais de trinta anos. Nada resolveu o medo patológico, nem ansiolíticos, nem terapia psíquica, nem derivativos que se tornam vícios e levam a outras doenças. A depressão é profunda, abissal, cerram-se portas e janelas, casas fechadas, masmorras, alguns opiniosos patológicos não admitem, é a famosa e “moderna” doença do pânico, POR MEDO. E vivem uma vida de ficção, são jardineiros, esportistas, passeiam por vontades irrealizadas que tornam reais. A internet por grande mostra é laboratório dessas vidas, digo sempre. A vida é mar revolto de dificuldades que as emoções enfrentam timidamente, é preciso aparelhamento para viver.

E o medo, paradoxalmente, impede a vida, o mesmo sentido do objeto de proteção, a vida que se quer proteger, se extingue. O que se protege está comprometido. Já não se vive! O paradoxo é gritante e a contrariedade clara. Já não se vive por medo, a vida que se quer preservar não é vivida. Atentem para essa equação irrespondível.

Perdendo a noção de realidade, vive-se a irrealidade, uma dureza para a vida que se quis proteger e não se vive, se arrasta entre ficção e sonho irrealizável, é triste. Sofre-se. Mas nada se pode fazer, é maior que a vontade essa força, entende-se.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 10/04/2016
Reeditado em 10/04/2016
Código do texto: T5600760
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