QUAL É O SEU PASSEIO IMAGINÁRIO?
É provável que se pudéssemos voltar no tempo, muitos desejariam se encontrar consigo mesmo em um momento da infância, quando tudo era mais leve, quando era só fantasia, sonho e alegria. Qualquer situação banal era motivo de risos; uma traquinagem também era passageira; um universo puro e inocente. Bastava sair na rua e brincar com os amigos que a felicidade era tamanha. O célebre pensador Dalai Lama dispõe que só existem dois dias no ano que nada pode ser feito: um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.
A mãe na hora do almoço, ou ao anoitecer, chamava pelo nome do filho, que estava passeando em seu universo imaginário. E ao estar perto dos pais, e ter interrompido aquela diversão, lá estava ele, dizendo que ainda não tinha brincado nada. Isso depois de três, quatro ou cinco horas solto, à vontade na praça ou na porta de casa. A roupa, o chinelo, o pé não tinham nenhuma cor definida. Não havia nem condição para entrar em casa, era só poeira da cabeça aos pés. Um provérbio chinês afirma que “o grande homem é aquele que não perdeu a candura de sua infância”. Desse modo, quanta lembrança, quanto aprendizado, quantas travessuras se fazia. Parecia que o mundo era mais simples. As pessoas eram todas boas, o dia tinha mais cor, os animais no quintal eram quase um parente próximo.
Após anos e anos, as mudanças foram gigantescas: internet, computadores, smartphones, tablets, etc. A rua agora está somente no “game”, o animal é virtual, a concentração se dá somente na telinha de alguns desses aparelhos eletrônicos. Augusto Cury, profundo estudioso da mente humana, afirma que ao tirar o celular de um jovem por um dia, a dependência aparece: ele fica mais ansioso, intolerante a contrariedades, com humor depressivo e num tédio mordaz. A inteiração humana, o contato visual e o contato físico estão literalmente se perdendo. A globalização que parecia unir, agora está distanciando as pessoas e as levando para bem longe de si mesmas e dos outros. Constata-se que quando estamos sem essas muletas eletrônicas ficamos entediados, com mau humor, ansiosos, tudo por causa do exagero no uso dessas tecnologias. E Augusto Cury continua dizendo que a internet trouxe grandes ganhos, mas contatos superficiais. Ali, raramente a pessoa se relaciona com alguém em profundidade e, pior, com ela mesma.
Parece-nos que o homem perdeu o valor perante a humanidade, e agrega coisas e objetos, que como tesouras, somente cortam e destroem a paz interior; que destroem a intimidade, o respeito, a ética, a cordialidade e a paciência. Diz o escritor Antoine de Saint-Exupéry que apesar da vida humana não ter preço, agimos sempre como se certas coisas superassem o valor da vida humana. Compreendemos que existe uma alienação robótica, cibernética e eletrônica. O verde já não é mais verde, é metálico, é plastificado, é concreto. A terra não é mais marrom, é preta, é cimentada, é asfáutica. Há um limite entre a evolução e a perda dos valores naturais e humanos? Ser inteligível é então estar conectado, “on line”, ou ainda há lugar para contemplar o que é puro, rústico e artesanal? Como disse certa vez Albert Ainstein: a paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos. A paz é fim, mas também é fruto de si mesma.