OS JAMBOLÕES DA PONTE PENSIL
OS JAMBOLÕES DA PONTE PENSIL
Para quem não sabe a Ponte Pensil, que liga São Vicente ilha a São Vicente continente e Praia Grande, foi construída com a finalidade de servir de apoio à tubulação de esgoto coletado em Santos que tinha seu destino final na Ponta do Itaipú, próximo à Fortaleza de Itaipú. Fez parte do conjunto de obras implantadas por Saturnino de Brito, grande sanitarista, no início do século passado. Entre essas obras a construção dos canais de Santos como ponto principal, com a finalidade de sanear a Ilha de São Vicente. Foi inaugurada em 1914 pelo então prefeito de São Paulo, Washington Luís. Já na ocasião a comitiva passou de automóvel pela ponte. (Fonte: Wikipédia)
Mas para quem passou a juventude em São Vicente esse monumento de engenharia tem um significado muito diferente. E muito mais interessante. A Ponte Pensil, além de permitir acesso à Praia de Paranapuã, nome oficial da Praia das Vacas, onde sempre se encontrava um ou outro bovino pastando em seus arredores, era uma fonte de aventuras para a garotada. Os vicentinos iam pescar do outro lado da ponte e invariavelmente voltavam com pescadas, salemas, pernas de moça, bagres, caratingas, garoupas e robalos. Baiacús eram devolvidos ao mar por serem “venenosos”. Mas a ponte em sí era palco de muitas peripécias. A grande atração era saltar da ponte, mergulhar e ir nadando até a margem. Em frente à entrada da Ponte havia um destacamento da Polícia Rodoviária com os policiais sempre atentos, que eram o grande obstáculo. Sempre que desconfiavam que houvesse a intenção de alguém saltar, imediatamente iam atrás do sujeito e o detiam. Muitas vezes o cara saltava na frente do policial. Outros, mais corajosos, subiam no guarda corpo, passavam pelos cabos de aço e saltavam lá de cima. Próximo à ponte, havia diversos pés do jambolão, uma frutinha roxo escuro deliciosa.
Eu comecei a levar a natação a sério em 1960. Vivia mergulhando em busca de cavalos marinhos e minha relação com o mar era forte. Nadava, pescava, fazia caça submarina. De manhã, saia da minha casa na Jacob Emerich e ia corria até o Japuí, treinar na piscina do Tumiarú.
Retornava correndo após o treino. Na época certa, parava e subia em um dos pés de jambolão. Passava pelo menos uma hora colhendo as frutas. Escolhia as mais maduras e maiores calmamente e comia. Eram momentos de tranquilidade. O jamboloeiro é uma árvore que atinge grande porte, com muitos galhos desde baixa altura, ideal para subir até as partes mais altas e se acomodar entre um galho e outro. Ficava saboreando as frutas e aqueles momentos de paz no interior da árvore. Só quem fez isso pode lembrar-se dessa sensação de ficar rodeado de verde, com fímbrias de luz rasgando os espaços entre as folhas. De vez em quando pousava um pássarinho e, assim que percebia minha presença, decolava para outro local em que não houvesse intruso em seu mundo.
Após essa recarga de energia, voltava descansado para casa. Com a boca roxa quase preta e a camisa com umas manchas que provocavam muitas broncas de minha mãe.