Elegância Rude.

Estava com fome, pois, já havia passado a hora do almoço e o caminho percorrido havia me levado até uma sessão de restaurantes na parte sul da cidade. Optei por um restaurante de cardápio relativamente exótico; as outras opções que me restavam eram restaurantes, bares e lanchonetes que não serviam pratos vegetarianos.

Sentei-me em uma das mesas próximas da porta e logo um garçom me trouxe o cardápio; fui rápida em escolher um prato que continha vários legumes e vinha acompanhado de arroz, e um suco de laranja fresca.

Enquanto esperava a refeição, observava com olhos curiosos todos aqueles vestidos exuberantes para a hora do almoço, ternos e roupas esportivas de luxo que passavam por mim, quase todos exalando um perfume exagerado. Quem eram? O que faziam? Para onde iam?

Para me acompanhar, no celular eu falava com a Inês, conversamos sobre o centro de Piracicaba, sobre opções de almoço e esqueci de compartilhar opiniões sobre os vietnamitas, chineses e japoneses que viviam naquela região de São Paulo.

Por fim, chegaram meus pratos e optei por saboreá-los da forma que mais me agrada, primeiro o feijão e as saladas cruas, com alguns goles do suco de laranja. Depois os legumes cozidos.

Deixei o celular de lado para que minha atenção ficasse focada no alimento, mas a referência a um de meus desenhos animados favoritos fez que com eu prestação atenção a conversa que ocorria próxima a minha mesa.

Um homem e uma mulher riam e discutiam a vida em seus escritórios.

O homem falava de colegas arrogantes e prepotentes, em uma mulher fraca que não sabia se impor. Ele até passou um sermão na tal mulher.

A mulher falava das pessoas de quem ela gostava, dos que haviam sido transferidos e agora estavam bem em outros estados e sobre planos pessoais.

Aos poucos fui formando uma opinião sobre eles, a mulher voltava-se hora e outra para assuntos menos superficiais, emitia opiniões respeitosas ou neutras sobre as pessoas e imagino que em alguns anos ela terá aquela maturidade que torna as pessoas inesquecíveis, talvez tivesse na ocasião uns 24 anos: toda aquela empolgação, curiosidade e ímpetos.

Já o homem havia conquistado meus ouvidos com a referência, aos poucos ia se esvaindo, cada palavra dita expunha mais e mais uma pessoa que quer estar sobre as outras, que deseja ver a si mesmo como melhor em tudo, tal qual adolescentes imaturos. Não sei o porquê, mas não pude evitar a imagem de Dorian Gray.

Em dado momento ele simplesmente comentou: “se você fosse uma pessoa sofisticada você comeria o molho assim” e explicou para a jovem como ela deveria proceder.

A voz dela murchou e ele continuou a falar nos próximos instantes. Depois ela voltou a expressar suas ideias, mas sua voz era baixa e o assunto corriqueiro. Algo havia se rompido entre eles por causa daquele comentário.

Talvez ela esqueça que ele não a considera sofisticada, talvez algum dia ele descubra a tênue linha entre elegância e falastronice, mas certamente usarei meus fones de ouvido na próxima ida ao restaurante.

E R Brasileiro
Enviado por E R Brasileiro em 07/04/2016
Reeditado em 07/04/2016
Código do texto: T5597954
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.