Sobre o vídeo em que uma juíza reconhece o amigo de infância...

https://www.youtube.com/watch?v=VAKjz4FZ6rg

O mundo dá muitas voltas...

Esse vídeo é emocionante. Fez-me lembrar de quando trabalhei na Educação Prisional, do convênio Seduc/Susipe.

Certa vez, na colônia agrícola Heleno Fragoso, eu estava na sala da coordenadora pedagógica, quando ouvi alguém me chamar. Mas em vez de Cleide, falava Gleide. Ao olhar ao redor, reconheci um sorriso de minha infância. Era o colega de classe, que estudou comigo em 1988, na Escola Estadual João Renato Franco. Nossa! Foi emocionante reencontrar meu colega.

A vontade que tive quando o vi foi de abraçá-lo na hora e relembrar dos momentos de escola, pois ele me perturbava muito, além de me bater. Mas era divertido! A única coisa que pude fazer foi apertar sua mão com carinho, segurando firme como a dizer " Conte comigo! Eu também sinto a sua dor."

Antes de ir ministrar minhas aulas, o chamei pelo nome e conversamos brevemente. Ele me perguntou sobre minha mãe, minha profissão, minha vida pessoal. Eu perguntei como ele estava, qual tinha sido a "bronca" dele e como ele vivia.

Com o mesmo jeito alegre de criança, ele disse que a pena estava no fim e que desejava viver em paz. Ele viu que eu quase chorei ao vê-lo naquela situação e me disse para eu não me preocupar.

Ao chegar no espaço improvisado para as aulas, não consegui evitar a emoção. Meus alunos, preocupados, ficaram a me observar. Um deles perguntou: "O que foi, professorinha?"

Então eu relatei sobre o reencontro com o meu antigo colega de escola. A aula daquele dia foi muito proveitosa, pois discutimos sobre diversos assuntos e textos muito bons foram produzimos.

Ao chegar em casa, meus bichinhos de estimação me esperavam na porta. Deitei no sofá, abraçadinha com eles, e me pus a chorar. Ficava me questionando: Estávamos no mesmo ponto de partida... mas a vida nos levou a caminhos inesperados. Gostaria de que a vida do meu colega fosse diferente...

Só o encontrei naquela única vez. Não sei o que aconteceu com ele. Gostaria de tê-lo abraçado, mas em respeito às normas de segurança, não pude fazer isso.

Havia um aluno meu, um senhor muito querido, que dizia gostar do meu jeito. Certa vez, comentou:

"A senhora sempre trata a gente bem, sorri pra gente, é carinhosa e trata a gente como igual. Por que a senhora faz isso? Não tem medo da gente?"

Ao que eu respondi serenamente:

"Só podemos ter medo do que não conhecemos e daquilo que ameaça a nossa vida. A cada dia que convivemos, nos conhecemos um pouco mais. Nesse conhecimento, reconhecemos a importância de uns para os outros, aprendendo a valorizar a vida de todos. É por isso que não sinto medo. Eu acredito que tudo pode ser melhor, por isso estou aqui. Sobre o modo como trato vocês, jamais faria distinção. Vocês são meus alunos. Estão aqui de passagem, cumprindo uma pena. Mas antes de tudo, são pessoas que têm sonhos e esperanças. Se os tivesse conhecido antes, lá fora, não faria sentido eu tratá-los de modo diferente aqui. Da mesma forma, saibam que quando conquistarem a liberdade, os tratarei com o mesmo respeito com que os trato agora".

Até hoje, sempre que reencontro antigos(as) alunos(as) do projeto, sinto a sensação do dever cumprido. Hoje, eles e elas trabalham honestamente, dão continuidade aos estudos e cuidam muito melhor de suas famílias.

É uma pena que ainda haja reincidentes. No entanto, sementes foram cultivadas e sei que, no tempo certo, bons frutos irão surgir.

Nossa, fiz uma viagem no tempo agora...

Esse vídeo me trouxe lindas recordações!

Maria Cleide da Silva Cardoso Pereira (MCSCP)
Enviado por Maria Cleide da Silva Cardoso Pereira (MCSCP) em 07/04/2016
Código do texto: T5597803
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