ÚLTIMA FORMA
O vice-presidente do Clube |Geraldo Santana me pagou a missão: - Bledow, o QTS chama uma crônica para o mês que vem. Escreve algo sobre a caserna, de preferência.
Cumpriu-se o velho ditado: Soldado de folga no quartel, ou está detido ou quer serviço.
Missão dada é missão cumprida! Desde que se forneça os meios. Comando errado não se executa! Que não é o caso. Não sou de se mixar e estou desembocando. Contarei estórias, mencionarei siglas, nomes, ações, ordens, contraordens, objetos tradicionais, alguns já não existem outros mudaram de nome e já não lembro, pois afinal sou antigão. Não entregarei ninguém, não quero ser dedo duro, porém alguns identificarão fatos e pessoas envolvidas. O diabo é mais diabo por ser velho do que por ser diabo. E mais: ele matou a mãe com o cano da bota. Alguns ficarão mais por fora que cotovelo de motorista. Não vou explicar tudo. Quer moleza vá pentear macacos. O espaço não é tão grande e tenho que resumir. Horário é horário: - nem antes, nem depois.
Vamos comendo o mingau pela borda no M1A1. Vocês não sabem, mas eu incorporei na arma ligeira que transpões os montes, que jamais recua. Depois fiz curso de cabo nas comunicações, que faz bem feito para fazer uma vez só. Mais tarde me requalifiquei na QMP de topografia, ninguém é perfeito, a par de outros defeitos que tenho: letra feia e sangue tipo A negativo. Não sou PQD.
No início do período básico levava sustos quando alguém me chamava de guerreiro, combatente! Depois fui incorporando na massa do sangue e só espiava com o rabo-do-olho. Ainda levo um choque quando alguém por perto grita: SELVA! Parece que a guerra vai começar.
Aprendi com muita gente, desde o cabo de dia que dizia: - faxina não se faz, mantém-se. Com o chefe da SSVG, praça antigo, maceteado, ensinava: - Soldado, se queres se dar bem, faça o seguinte: Tá parado, pinta de branco. Mexeu, faz continência.
O Cap Cmt do esquadrão por sua vez, deixava bem claro: - Recruta não reclama. Se perguntado só responde: - SIM SENHOR! NÃO SENHOR! QUERO IR EMBORA!
Vou usar dos meus conhecimentos de maneabilidade típicos da infantaria, na instrução básica, e rastejar entre as palavras, para atingir o objetivo, afinal o infante é o único entre os combatentes, que vê a cor dos olhos do inimigo. Para me aproximar do leitor, construo pontes flutuantes, missão da arma azul turquesa e ainda tenho que ser criativo como a arma de Mallet, visando enfraquecer as resistências e lançar um morteiro no coração dos leitores. É claro que a intendência entra com toda logística, principalmente para saciar a sede nesses tempos de calor. O SV de MNT e a Saúde certamente estão no apoio.
Começo meu Plano de Instrução, puxo meu memento lá do fundo do escaninho e faço um maceteiro: data/hora e local. Instrutor e monitor. Assunto, introdução, desenvolvimento e objetivo ao chegar à última linha desta página. Tomo posição na capichama e enquadro a alça de mira. Prestem atenção, pois ao final dessa seção, vou aplicar uma avaliação de aprendizagem aos leitore/instruendos. Terão que me responder por email se gostaram ou não, se não entenderam alguma coisa e se tem algo a acrescentar, ou, ainda, se não entenderam patavina. Também terá uma pesquisa de desempenho do instrutor. Por favor, peguem leve. Nada de agravantes, só atenuantes previstas no RDE.
Junto os cascos e com licença, me apresento: - Sou da terra mais falada no exército. Mataram a charada? Três Passos em frente! Esse é o comando correto. Numa formatura o subchefe, não muito afeito à ordem unida, comandou: - DOIS PASSOS EM FRENTE! Lembre-se, - Comando errado não se executa!
Noutra feita, um tercereba da nossa turma, fazia instrução de ordem unida com o pelotão armado de FAL. Prá lá e prá cá marchando no pátio central para mostrar serviço, batendo os coturnos sem picar a cadência. Vinham em ombro armas. Em movimento ele comandava: - DI-REI-TA-VOL-VER! E o pelotão girava e continuava firme. – CRUZAR...ARMAS! PAF! PUF! Bateram os cascos destacando os tempos do movimento. Foi então que o nosso amigo instrutor de OU mijou a tropa, que continuava marchando: - OLHA O MOVIMENTO DOS BRAÇOS! TÁ FRACO!
Gafes são comuns na tropa. Houve um superior com uma constelação no ombro, que fez continência sem cobertura. Um grande erro para a época. Isso foi em Brasília numa sexta-feira, todo mundo viu pelo noticiário, mas só os profissionais notaram. Naquele tempo militar era notícia. Segunda-feira o BE cantou e regulamentou a continência sem cobertura. Esse mesmo militar, cheio de estrelas gemadas, viu o exército russo desfilar na Praça Vermelha, naquele passo de ganso com paradinha. Imediatamente a paradinha foi incorporada nos desfiles do EB. Era bonito, mas complicado. Pelo que sei não tem mais. Parece que hoje há regulamentação para o uso do guarda-chuva. Deve ser curioso.
Há expressões e nomes que caíram em desuso, mesmo nas FFAA onde tudo é regulamentado. Recordá-las, depois de tanto tempo é engraçado. Quando incorporei no 6º RCB, lá no Alegrete, usávamos japona e pega-loco. Para reservar às refeições do dia seguinte, marcávamos o reverte, hoje arranchamento. Rancho, hoje refeitório. A jaqueta da farda VO de instrução era gandóla, aliás, engomava-se a calça e a gandóla.
Espero ter atingido os objetivos dessa seção que eram recordar e contar algumas coisas engraçadas e outras tantas bem antigas.
Pergunto: - QSL (Tudo entendido?).
Eu estou em QAP (Estou atento).
Para quem entendeu tudo, está qualificado.
Para quem não entendeu, mande um email, mas também está qualificado, sim por que quem teve a paciência e leu até aqui, tem bala na agulha, é promovido de recruta a conscrito e, quem sabe, a soldado. Apto a usar boina.
Aceito colaborações e sugestões. Pode ser no SELOTEX, por MDO, telegrama ou radiograma não criptografado. Se preferir faça uma parte. Mantenham a arma em TASSO, peito estufado, mão espalmada e o queixo erguido. – Cara de mau guerreiro!
Peço desculpas por algum mal entendido ou informação errada e neste caso vale o título: ÚLTIMA FORMA!
Ou quem sabe: - ÚLTIMA FORMA, NA ÚLTIMA FORMA!