Perdi os óculos

Sou um véio que vive esquecendo as coisas. A minha memória só funciona bem para lembrar o passado. Por isso com um caderninho e lápis no bolso anotando tudo, se tomei os remédios, se telefonei para as filhas, para a neta, se lanchei, enfim, anoto até, pasmem, se fiz as chamadas "necessidades fisiológicas", quando esqueço faço a pergunta que irrita minha mulher: - Neguinha eu já caguei hoje? E ela responde arretada da vda: - Sei lá, eu não tô com teu...

Bom. mas hoje bem cedo sairam todos, inclsuive a mulher, e eu fiquei sozinho lendo o jornal e ouvindo a Rádio Universitária (o programa só de músicas de antigos carnavais). De repente me deparei com um edital com letras bem pixototinhas (sou doido por editais, coisa de abestaalhado), notei que iria precisar dos óculos, tenho a mania de se botar os óculos quando saio ou vejo tevê, coisa de tabacudo. Comecei a procura os óculos. Primeiro peguei o caderninho para ver se tinha anotado onde tinha botado o bicho. Nada. Vasculhei tudo, imaginem o esforço para olhar debaixo da cama, afastar móveis ficar pra lá e pra cá, até asma eu tive e usei a bombinha. Então, mais calomo, pensei: - Será que deixei ontem na loteria? Ou: - Será que deixei no supermercado (tenho o hábito de tirar os óculos para iolhar o vencimento dos produtos). E também pensei ter deixado na casa da filha. Telefonei, ela disse que não. Resolvi então ir à loteria e ao supermercado.

Quando desci, a porteira, uma moreninha espevitada e que se dá muioto bem comigo, perguntou rindo: - Pra onde vai tão cedo meu coroa preferido? Eu respondi pra onde e o motivo. Ela começou a rir, ria que quase chorava. Eu perguntei o motivo. Ela respondeu ainda rindo: - Nem precisa ir tão longe, os óculos tão bem pertinho, na tua testa.

Terminei também rido e pedi a ela que não contasse io caso a ninguém, Pedido indeferido. Agora quando boto os óculos na testa anoto no caderninho. Estou mesmo caduco. Inté.