O OLHAR DE HUMILDADE DA MOÇA DO SUPERMERCADO
Após apresentação de um tema espírita, a respeito da humildade, veio-me à lembrança que era antevéspera de sexta-feira santa e ainda não havia adquirido o peixe adequado para a refeição da sexta feira da paixão. Era tarde, por volta das 21.30h e, levando em conta que havia um supermercado bem próximo o qual permanecia aberto durante à noite, para lá me dirigi.

Fui surpreendido pelo expressivo número de clientes, naquele horário, e a grande procura do produto que eu desejava; assim, não restou alternativa senão comprar o que ainda estava à venda e pelo preço ofertado, porquanto se tratava de produto importado, preço bastante alto. Porém, como foi dito, o preço já não importava, porquanto o grande estoque do tradicional bacalhau estava esgotado.

Satisfeito com a compra, procurei outros produtos eventuais, já que estava no local e fiquei na expectativa de que o movimento de clientes diminuísse. Enganei-me na previsão; o número de clientes aumentou e as filas dos caixas eram longas nos corredores.

Percebi que em um dos caixas a fila era pequena e ali estavam dois carrinhos apenas, sem muita mercadoria, fato que me levou à dedução de que o pagamento seria rápido.

Um casal acabara de passar pelo caixa e toda a mercadoria estava sobre o balcão. Um rapaz, provavelmente marido de uma moça de baixa estatura, relativamente obesa, tentava ajudá-lo na colocação de produtos em sacolas próprias; assim procedia porque o referido rapaz, talvez seu marido, não mostrava interesse em agir com pressa. No momento o melhor fora esperar pacientemente o desfecho, mesmo porque à minha frente havia um cliente com pouca mercadoria para passar e pagar, o que justificara a espera. O relógio marcava 2230h.

O ponteiro que marcava minutos não parava, girava sem preocupação com a minha espera; avançava rapidamente e desafiava-me a paciência; embora mecanicamente, agia como a desafiar meu equilíbrio, naquele fim de dia.

Vinte e cinco minutos e eu ainda permanecia no mesmo lugar, sem que o casal conseguisse embalar a pouca mercadoria comprada.

Outro casal, o que estava à frente, na fila, trocou palavras as quais, pela feição de cada um e respectivas contrações faciais, por certo não eram alvissareiras; ao contrário soavam como críticas severas.

Em um primeiro momento, levado pelas circunstâncias, aliei-me às reprovações por ambos externadas, talvez porque, naquele momento, a demora já me incomodava; afinal, a calma e a desconsiderações do que estava a ocorrer, por parte daquele moço que embalava os produtos, serviu de motivo para meu desequilíbrio emocional.

Tentei uma estratégia, qual seja olhar sério para o casal “tranquilo” na tentativa de fazer com que ambos percebessem que estavam incomodando outras pessoas. Olhei, mas não funcionou, porque nenhum considerou o fato.

Algo, contudo, foi por mim captado. Constatei que a moça, provavelmente esposa do rapaz barbudo que embalava as mercadorias, estava preocupada com o valor da conta e buscava devolver um produto, a fim de que pudesse equilibrar o valor a ser pago com o dinheiro que ela possuía; aliás, a bem da verdade, ela utilizava um documento que denotava tratar-se de um vale compra fornecido a certos empregados.

O procedimento de tentar devolver uma mercadoria, para se chegar a um valor possível, encabulou a moça. Enquanto a funcionária do caixa, gentilmente, tentava acertar os valores, a cliente, encabulada, agia de maneira a encobrir a vergonha por que passava.

Nesse exato momento percebi o olhar dela para com a moça do caixa, olhar esse que me tocou fundo o coração e alterou todo o quadro mental adverso, formado naquele momento; nasceu em mim, imediatamente, sensação de arrependimento e de vergonha pelo juízo que formei a respeito.

Pensei, comigo mesmo, como pode um simples olhar trazer consigo a revelação de um ato puro de humildade. Lembrei, também, de uma passagem bíblica, no Apostolado de Mateus, acerca das palavras de Jesus: “Bem-aventurados os humildes, porque herdarão a terra”.

Pensei comigo mesmo, a moça, humildemente, estava submetida à reprovação do casal à minha frente e, também, à minha reprovação. E porque? Porque, humildemente, coagida pela insuficiência financeira, tentava comprar o que o dinheiro lhe permitia. Contudo, se Jesus considerou que a humildade acarreta possibilidade de se herdar a terra, onde ficaria a lição do mesmo Mestre, sobre o futuro espiritual? Afinal, herdar-se-á a terra ou o Céu?

Transportei esse pensamento comigo, bem guardados na minha mente, para reflexão posterior.

Finalmente, ao depois, consegui formular uma conclusão a respeito e o fiz com a ajuda do plano superior, naquele momento solitário, isolado, em um cantinho qualquer do lar onde se busca conexão com o plano Maior.

A justificativa que me foi sugerida é esta.

Vivemos na dimensão terrena, de duas maneira: com utilização de um corpo biológico, físico apto a processar condições para o aprimoramento da espécie; no entanto, vive-se, igualmente, o espírito, ou a alma como queiram. A alma no corpo e o corpo para a alma. Nessa simbiose ocorre duplo aprimoramento, desde que algumas regras Supremas, absolutas, sejam cumpridas.

Uma das regras é orientada no sentido de que é melhor para o desenvolvimento espiritual que se evite a prevalência da matéria sobre o espírito; que se policie o livre arbítrio para que, cada vez mais, o espírito prevalece sobre a matéria.


A fim de que se realize a prevalência espiritual, impõe-se a prática da humildade, não no sentido de subserviência, porém no sentido de consciência plena do Amor de Jesus.

Levando-se em consideração que a vida humana é de curta duração, aí está sua preciosidade, ou seja, há necessidade de se viver intensamente a vida do corpo humano; entretanto, se se proceder com humildade, que se revela em gestos simples, os quais sequer percebemos, como o olhar daquela humilde cliente do supermercado, herdar-se-á força Divina para usufruto da herança Suprema: A vida terrena necessária para preparação da vida futura, espiritual.

Onde se poderá encontrar herança mais valiosa do que o ensinamento de Jesus, que se reduz nesse conselho: seja humilde, em todos os gestos do dia a dia, e você conseguirá usufruir da vida humana, para que se possa alcançar melhor a vida futura.

Obrigado gentil moça do supermercado por ter-me transmitido tão generoso ensinamento, com um simples olhar de humildade.
aclibes
Enviado por aclibes em 04/04/2016
Código do texto: T5594704
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