SAUDADE QUE FAZ DOER
Há exatos 17 anos perdi minha mãe, vítima de um câncer. Foram dois anos de luta, na expectativa da cura, submetendo-se à crueldade dos tratamentos, na esperança de que o mal pudesse ser vencido. Ao seu esforço e à vontade de viver, somavam-se as rezas de grupos de oração, das companheiras que devotamente se dedicavam a novenas, rogando a Deus por sua vida. Mas, infelizmente, o final foi aquele predestinado a ela.
Sua resistência durou algum tempo, lutou até a triste hora da partida. E não podia ser diferente, afinal ela nunca foi mulher de fraquejar, muito menos desistir. Insistia em querer dar conta de todos nós, saber se estávamos bem, certificar-se de que a caçula ficaria segura e que tudo seguiria da melhor forma, embora sem a sua presença.
Uma certeza trago em mim: eu sei que sua luta não foi contra os desígnios de Deus, pois era um exemplo de fidelidade a Ele. Sua resistência à morte era tão somente devido à preocupação em ter que deixar os filhos, sem saber como estes sobreviveriam dali em diante. Talvez sua passagem tenha sido um tanto dolorosa, por sentir-se na obrigação de deixar tudo acertado para que nada se perdesse depois que faltasse o seu comando. É por isso que, diante da pergunta “morreu de quê?”, a resposta que me vem, do coração, é: “de tanta coisa!”
E tomamos o fatídico nove de abril daquele ano como lição, pois diante da morte, esse fato que nada nem ninguém explica, aprendemos que o melhor é viver cada dia como se fosse o último, na base do amor e do respeito ao outro, pois vimos o quanto somos impotentes diante desse momento cruel da nossa existência. E depois que ela se foi, nunca mais nos largamos! Somos nove irmãos e, sob o seu olhar materno, ainda que de outro plano, seguimos juntos, celebrando a vida e rezando por ela, ajudados por suas lembranças, pelo que representou (e representa) em nossas vidas.
Não é fácil rememorar tudo isso. É saudade demais, meu Deus!