Sem chances

Sentei no ponto de ônibus esperando que alguém me oferece ajuda, mas ninguém me deu água ou pediu pra que eu ficasse calma, sequer me olharam...

Dizer que minha vida é o fracasso, que eu não presto, dizer o quanto estou sofrendo, é o limite do que se diz clichê, mas para alguns que estão nessa, no entanto, não dizer é melhor, mas para mim... não é assim, eu gosto de encarar e seguir...

Não gosto de lamento, mas é o só que tenho feito.

Ainda estou com o mesmo vestido da semana passada que agora tem cheiro de esgoto e o sangue escuro está seco sob minhas unhas, já minha mente, não para, acelerada ela... ela não me deixa dizer como está, gaguejando digo que está em colapso, pois a imagem daquele homem se mistura a tudo que já vi.

Vejo ele pedindo a ela pra que diga que o ama e em seguida corta seus dedos e olha para a cela de barras afiadas em que me pôs e sorri, parece não me ver.

Aquele homem se voltou para minha mãe perguntando se estava com medo, mas ela não responde, quando ela abriu a boca, ele cortou seus lábios. Não acho que fosse psicopata, ele reconheceu o medo, mas tenho certeza de que foi alguém que posso me tornar, já que para alguns, minha única obrigação de direcionar afeto era para minha mãe, mas aquela que foi minha mãe está morta, ele a matou naquela noite, depois de também ter decepado suas orelhas, atirou naquela nuca em que ela costumava enfeitar para atrair clientes na esquina Plaisirs na madrugada, contudo, essa mesma mulher me ensinara que eu sempre posso escolher o que me tornar, não importa a pressão e a dor que o mundo transmite.

A vi, minha mãe caira sob seus pés com um tiro na nuca e a faca nas entranhas, e esperando minha vez, olhei para os pés dela e vi a chave da cela em que eu estava. Aquela mulher podia ter corrido, mas quis me dar mais uma chance de viver, mas para isso tivera que morrer, eu devia isso a ela, por isso me opus a minha morte.

Quando ele parou de esmurrar o corpo, eu já saíra do lugar... estava nesse momento com um facão a cravar-lhe nas costas. Foi o que fiz. Eu o matei.

Agora sou uma ex-prostituta viva, -ao contrário de minha mãe que está morta- sentada no ponto de ônibus com cortes abertos que não vazam, assim como meu coração que decide aos poucos parar de fugir e construir uma vida que preze a minha não morte no meio dessa cidade em que só existem únicas chances, porém eu vou construir a minha primeira, ainda que no seguir esse mundo venha novamente me ferir.

Izandra Varela
Enviado por Izandra Varela em 03/04/2016
Código do texto: T5594198
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.