AMORES DE ABRIL

Pedala a bicicleta pelo acostamento.Atento ao vai e vem da rodovia é um ser anônimo,quase imperceptível.

Os lábios desenhados em bico , lançam no ar o assobio melodioso de uma conhecida canção.Ritmado e claro feito a tarde de domingo,tão azulada e luminosa como deveriam ser tôdas as tardes pelos domingos de nossas vidas.

Na ciranda do tempo:Céus,arvoredos,automóveis,pedaladas...

Os cabelos espigados do assobiador deitam-se dourados aos ares de outono e os sonhos que lhe vazam d`alma energizam-lhe num movimento giratório aos pedais famintos de distâncias.

No carrossel do dia:Sol,vento,asfaltos...

Colina ardente ao luzir da tarde.À sua direita,a cidade.

Sonolenta e reçacada traça-lhe ruas e edifícios amiudados ao longe,feito uma maquete brilhante.

À esquerda,deitam-se as leiras, cêrcas aramadas, gado no pasto, alguns telhados esquivando-se nos capões de mato.Não muito distante,uma curva.Porteira entreaberta ,uma velha palmeira carcomida pelo tempo hasteando ainda a verde bandeira da resistência. Casa de madeira em cores vibrantes ,janelões envidraçados ,entreabertos, cortinas que vão e vêm ao gosto do vento. Samambaias escalando varandas e um rádio tocando em volume alto.

Um enérgico vira-latas impondo autoridade,corre ao encontro do ciclista . Quando o percebe,quase membro da família,abranda-se,silencia latidos, faz -se batedor,desfila garboso à frente da bicicleta.

No portão de entrada a môça o espera.

Alvura na face,escorrem-lhe trigais pelos cabelos. Nas mãos branquejam-lhe jasmins e no coração pulsa-lhe o desejo de ser amada.

Pende para o lado a bicicleta.Vai ao chão,restam-lhe ainda sobras das últimas pedaladas girando no ar.Os sonhos juvenis obedecem a cadência giratória das rodas. Olhares safirados se encontram,azulam-se intensamente.

O céu não esconde uma pontinha de inveja.

O rapaz a abraça.

As faces se encontram e a môça eslava roça-lhe jasmins pelos cabelos. Uma doce ternura,um suave perfume na tarde azul num domingo pleno de...

Amores de abril.

Joel Gomes Teixeira