Adão e Marlene


Tudo começou quando fui morar ao lado da casa do Adão e da Marlene. Adão era irascível, Marlene, a mãe da paciência. Não era fácil suportar o Adão, cara de mau, tinha até a fama, injusta, de elemento perigoso. Não fazia sentido, percebi isso rápido. Quem tem uma companheira igual a Marlene tem bom coração.
    Bruno, que não era Bruno e sim Ricardo, começou a frequentar a casa do novo vizinho, para brincar com Fernando, meu filho. Bruno, para Marlene, Ricardo, nome preferido por Adão era o primeiro filho. Viviane*, pequena, dava sinais de garota inteligente. Não aborrecia a mãe, o pai, não aborrecia ninguém. Criança doce e pacata.
    Bruno e Ricardo são uma só pessoa. O mesmo caráter, a mesma personalidade. Não há ambiguidade. Adão queria que o filho se chamasse Ricardo; Marlene queria Bruno. Valeu a vontade de Adão? Mais ou menos. Registrado como Ricardo, mas Marlene só o chamava de Bruno e com esse nome ficou conhecido no bairro. Depois veio a Ketlen.
   Era uma vez um sujeito com cara de mau... Que se tornou meu amigo. As primeiras conversas foram lacônicas, analisávamos: “devagar com o andor que o santo é de barro”. Adão me convidou para uma partida de futebol. Lá no bairro Tirol a bola rolou e o pau comeu. Adão não gostava de perder. Entrava duro, de sola e de bico. E se perdia o jogo, briga não ia faltar. Adão se divertia de qualquer jeito: na bola, no pontapé e no muque. Mas era uma briga de mentirinha. No final estava de prosa com os adversários. Outras partidas de futebol aconteceram, quase sempre com o mesmo desfecho. Marlene domou a fera. Hoje seu marido foge de briga como o diabo foge da cruz. Adão sempre foi um sujeito honesto e trabalhador. Os filhos e as filhas trilham o mesmo caminho do bem, exemplos de Adão e Marlene, pai e mãe cuidadosos.
       Eu os tenho em alta consideração, apesar de quase não nos vermos, pois moramos relativamente distantes. Ultimamente só nos lançamentos de meus livros e no casamento de Kelly. Sempre com a promessa de uma visita. Que vai acontecer, tenho certeza!



Esta crônica integra o livro Crônica do Amor Virtual e Outros Encontros - Editora Protexto - 2012  - Pedidos diretamente na Editora ou na Estante Virtual.
 
* Viviane Keli, está casada com Alex. E tem uma filha, a Maria Thereza.