Ô meu Deus! Mas que num tem é nada mais bonito que esse céu azulinho, azulinho, quando o dia amanhece nessas bandas dos dias de abril. Custoso, num entupir os olhos tudinho com esse mar de brilho e matiz que desnorteia as vistas, faz a gente arriar em tudo quanto é cantinho da vida, como se a gente tivesse nascendo nessa horinha de já, pra tudo quanto é rumo.
O coração estala feito uma semente prontinha pra apontar e a gente sai de dentro, arrebenta, sem entendimento de nadinha. Nessa hora num tem robusteza maior que a natureza. Num precisa de ter leitura, nem juízo, nem condição pra alcançar o feitio da beleza e da grandeza de Deus, né mesmo?
Ora, nunca que o homem ia fazer uma lindeza dessa! O cheiro das madressilvas, que nem criança brincando de vento, vai que vai longe. Cê veja isso, Parecida! Parece música saindo do chão, galopando no ar, indo pro meio do que é perdido.
Eu sinto é um afrouxo no peito, uma largueza no corpo.... Já passei da conta daquele botão de rosa ali, ó. Ele inda vai se pronunciar, mais um bocadinho, de cumprido pro sol, ele desveste as folhinhas verdes e vira um labirinto de vermelho. Aquilo que ainda não era pula, num repente, pra dentro do que sempre foi. É assim que a flor se faz, viu? É assim.
Que nem a gente, que nessas horas larga de mão a roupa suja e nuinha, como Deus fez, sem lado, nem cumprimento, que nada disso importa, vira gente de verdade. E que coisa mais feliz é isso, né mesmo? Não carece de dizer nada. Carece não, Parecida, num carece de palavreado não, num sabe? Carece mesmo é de deixar o sol bulir na pele dormida, cravar luz na preguiça do olho meio dia de ontem ainda, num sabe? Deixar esse banho de cheiro escorrer pelo corpo frio e pronto! Cê há de pegar, num relâmpago, um risinho doce, quase mel, bicando o ladinho da boca. Um risinho meio beija flor, num sabe? Agora me diz se isso não é um dia feliz?
Ô meu Deus, mas eu que não quero outra coisa na vida. Pra depois, no encompridar das horas,  a gente vai aprontando com as roupas tudo esticada na cerca, com a broa de milho no café com leite, com o feijãozinho novo catado na ponta dos dedos...  Tem é coisa pra rematar, né mesmo? Completa daqui e dali, até amanhã tem é felicidade pela frente! Ô abril bendito!
Eliana Schueler
Enviado por Eliana Schueler em 03/04/2016
Reeditado em 03/04/2016
Código do texto: T5593255
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